quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Rebobine, Por Favor

Texto revisado com a colaboração de Samantha Rodrigues e publicado originalmente no Ogrolândia.

Em cartaz nos cinemas, Rebobine, Por Favor é uma inusitada comédia dirigida por Michel Gondry (de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças) e protagonizada por Jack Black, Mos Def, Danny Glover e Mia Farrow. Com o uso expressivo da metalinguagem, esta delirante produção pode dar um novo ânimo a este gênero que tem andado, nos últimos anos, em franco declínio.

Na estória, Fletcher (Danny Glover) é dono de uma decadente locadora de fitas VHS. Certo dia, deixa a lojinha aos cuidados de seu funcionário Mike (Mos Def) para fazer uma viagem. Os problemas começam quando Jerry (Jack Black), seu desmiolado amigo, apaga, acidentalmente, o conteúdo de todas as fitas da locadora. Desesperado, Mike resolve refilmar, por conta própria, e com a ajuda de Jerry, o filme Os Caça-Fantasmas, para satisfazer a uma cliente fiel (Mia Farrow).

Na sequência, os dois são obrigados a fazer mais e mais filmes para atender aos clientes que chegam. Acontece que estas toscas recriações viram uma inacreditável febre no bairro e a locadorazinha fica lotada de clientes em busca das tais fitas, a despeito da cara-de-pau dos dois amigos na "administração" da trapalhada. Aos poucos, de tanta demanda, a própria comunidade vai se envolvendo nas refilmagens. Com criatividade à toda prova, Mike e Jerry conseguem com pouquíssimos recursos, soluções sensacionais para remontagens de Robocop, A Hora do Rush 2, King Kong, Conduzindo Miss Daisy, e mais uma pá de filmes!

O diretor Michel Gondry consegue, assim, trazer com Rebobine, Por Favor, um pouco de uma certa nostalgia perdida da Sétima Arte e, simultaneamente, uma reflexão sobre o que é (ou o que se tornou) o Cinema hoje. Primeiro porque presta uma bela homenagem a diversos filmes dos Anos 70 e 80, verdadeiros “Clássicos de Sessão da Tarde”, e que nas hilárias versões de Mike e Jerry demonstram que, embora alguns deles estejam longe de ser filmes primorosos, já fazem parte do imaginário popular e a sua lembrança nos remete a tempos que foram, enfim, bastante prolíficos na indústria cinematográfica.

E, desta forma, dá um recado direto aos todos-poderosos magnatas dos grandes estúdios, de que é possível fazer bons e divertidos filmes sem recorrer a orçamentos estratosféricos, cachês irreais, campanhas de publicidade esmagadoras, e milhares e milhares de horas de efeitos especiais trabalhadas em estúdios de computação.

O que Michel Gondry vem lembrar para os ranzinzas da Era Digital é que a mágica do Cinema não advém somente da tecnologia gráfica de última geração, entremeados pelas caras e bocas de atrizes e atores bonitões. Ele mostra que a criatividade nas soluções visuais, de roteiro e de edição podem, sim, fazer a diferença. Mas, principalmente, quer mostrar que a abertura do espaço produtivo para a participação das pessoas, a possibilidade de absorção de diversas idéias (mesmo as que seriam, em princípio, as mais estapafúrdias), e a experimentação pura e simples, incluindo, desta forma, a possibilidade libertadora do erro, podem constituir uma saída para a pasteurização e a mesmice da produção cinematográfica atual.