terça-feira, julho 27, 2010

Fórmula 1 e Ferrari o Toque de Midas ao Contrário

A Vitória de Pirro da Ferrari, trocando a Galinha dos ovos de ouro por moedas de prata...


Novamente um escândalo na principal categoria do automobilismo mundial, mas ao contrário que da última vez em que vim aqui tratar da formula 1, desta vez, ninguém deu um furo uma informação bombástica que assustasse a todos, e que alguns menos dotados de funções neuronais pudessem duvidar em princípio...

Dessa vez, tudo aconteceu ao vivo... na nossa cara... de forma vergonhosa... inescrupulosa... inegável...  e terrivelmente  ridícula.

Ninguém que sabe quanto é dois mais dois dará qualquer pedaço de crédito as tentativas de camuflagem da história, seja de perda de marcha, seja de dificuldade com pneus, seja  de decisão do próprio Massa. Uma ordem foi dada. Todo mundo viu. Foi dada de uma forma codificada. Um código que só poderia ser entendido por maiores de cinco anos. E como menores de cinco anos não trabalham na fórmula 1 todos os envolvidos estavam bem cientes do que estava sendo dito, e do que estava sendo ouvido. A ordem foi obedecida, e como não podia deixar de ser os fãs de automobilismo ficaram chocados. Isso é indiscutível. E que todos os envolvidos paguem os preços devidos.

Não há nada que se noticiar sobre este tristíssimo evento. Há análises que podem ser feitas:

Sim a Ferrari é useira e vezeira neste tipo de atitude, fez com o Barrichello escandalosamente em 2002 na Áustria (de forma tão inútil quanto agora, pois se lá ninguém ameaçaria o título do Schumacher, aqui creiam-me o Alonso não chegará a lugar nenhum com essa vitória) e por isso mesmo eu creio que no fim, as atitudes além de total falta de ética denotam também amadorismo, e não profissionalismo como tentam vender os mandatários da scuderia.

Sim também em 2002, o Massa já tinha passado por algo parecido. Foi no GP da Europa em Nürburgring, o piloto então correndo pela Sauber, em sexto lugar (à época apenas seis marcavam pontos), ouviu perto do fim da corrida a ordem do chefe Peter Sauber, a ordem de deixar o companheiro de equipe Nick Heidfeld  passar. Naquela época, ele desobedeceu. No fim da temporada ficou desempregado. (mas vejam... não foi o fim da carreira dele... de lá ele acabou indo para a Ferrari, equipe de ponta). O que vem provar a sabedoria popular... é errando que se aprende... porque quando o Massa acertou ele não aprendeu.

É verdade que sempre aconteceu, de alguma forma velada que fosse, o jogo de equipe na fórmula 1, e a própria platéia aceitava, quando se tratava de momentos decisivos para o campeonato (o que nem é o caso volto a repetir). Mas fazer assim... e fazer assim da forma que foi feito... sem falar da esportividade, mas falando do negócio: É DESVALORIZAR O SEU PRÓPRIO PRODUTO, é burrice mesmo, pra dizer em bom português.

Eu provo este pensamento com uma colagem de repercussões em que todas, sem excessão, retiram do mundo da fórmula 1, seu valor, a atratividade do público. Acompanhem-me:

Lá do Blog do Flávio Gomes:


N’ALEMANHA (4)

SÃO PAULO (ah, a história…) – Não se tira uma vitória de um piloto, a não ser que o campeonato esteja sendo decidido, os pontos sejam fundamentais para resolver quem será o campeão. O que a Ferrari fez hoje em Hockenheim foi exatamente o que fez no GP da Áustria de 2002 com Barrichello e Schumacher: desnecessário e antidesportivo.
E os personagens de 2010 merecem nota zero, todos eles, como há oito anos. A começar pela cúpula do time. É inacreditável que não tenham aprendido com o erro gigantesco do passado. Este Mundial não vai se decidir por sete pontos. Expor seus pilotos a uma patuscada dessas, mais uma, é uma burrice monumental. Zero para Alonso, que mandou um ” é ridículo” pelo rádio quando nada de ridículo havia na sua frente. Apenas um piloto defendendo a liderança da corrida. Zero para Massa, que tem idade e cancha suficiente para se negar a fazer aquilo que não quer.
Se Alonso estava mais rápido que Felipe, e em algum momento da corrida sempre se está, depende dos pneus, do vento, de uma coceirinha no nariz, que fizesse a ultrapassagem. Sem colocar os dois carros em risco, evidente. Algo que não aconteceria, porque ambos são experientes e nada têm de burros.
Massa usou o discurso do “bem da equipe”, que a Ferrari adora. Vai reclamar internamente, é seu estilo. Mas aceitar a ordem o deixa numa posição frágil, ao contrário do que se imagina — de que foi ele o vencedor moral, ganhou pontos no time, essas coisas. Não adianta, a partir de hoje, 25 de julho, diante da opinião pública e principalmente do torcedor brasileiro, tornou-se um segundo Barrichello.
E por que a Ferrari faz essas coisas? Bem, ninguém precisa imaginar que é algo pessoal contra o Brasil, por causa das forças da FEB que ocuparam alguns vilarejos na Segunda Guerra, ou porque a seleção ganhou da Itália duas finais de Copa do Mundo. Não há uma vendetta patriótica. É apenas coincidência que as vítimas da ética toda particular de Maranello tenham sido pilotos brasileiros. Na verdade, primeiro e segundo pilotos é algo natural em qualquer equipe de F-1. O problema ferrarista é que seu modus operandi é desastroso. Vem lá dos tempos de Pironi e Villeneuve.
Nenhum piloto é obrigado a aceitar esse tipo de coisa. Mas, quando aceita, submete-se a um julgamento muitas vezes cruel. Principalmente porque apesar das ordens, dos contratos, do medo de perder o emprego, sempre existe a opção de dizer “não”. Para, depois, aguentar as consequências. Que, desconfio, não podem ser muito piores do que receber um rótulo de banana que pode colar na testa para o resto da vida.
Felipe, hoje, teve a chance de dar uma de Muricy, para ficar numa comparação fresquinha. Ou de peitar todo mundo, como Webber vem fazendo. Mas optou pelo time, pela “famiglia”. Vai receber tapinhas nas costas e agradecimentos. Não vale a pena. É melhor enfrentar umas caras feias, de vez em quando.






N’ALEMANHA (5)

SÃO PAULO (não deixem de notar que o dia está lindo em SP) – Não há muito o que falar do GP da Alemanha, tamanha a cagada da Ferrari nas voltas finais. Este GP vai ser lembrado pela presepada, mais uma, e não por aquilo que aconteceu na pista. E até que teve bastante coisa, como a largada pavorosa de Vettel, que resolveu mandar Alonso para o muro em vez de se preocupar em seguir em linha reta. O que Massa fez, assumindo a liderança.
Foi bacana também a briga lá atrás, entre Mercedes e Renault, principalmente. Kobayashi quase pontuou, De la Rosa esteve perto e fez burrada, Webber teve um dia dos velhos tempos, absolutamente discreto, e a Williams, tão bem nos treinos, decepcionou.
Mas nada foi melhor que a sutileza radiofônica da Ferrari. “Fe-li-pe, Fer-nan-do es-tá mais rá-pi-do que vo-cê. Con-fir-me que en-ten-deu es-ta men-sa-gem”, começou Rob Smedley, como se estivesse num bunker em Londres conversando com Winston Churchill em código, com medo de os nazistas interceptarem a mensagem. Por que não criaram uma senha mais criativa? Algo assim: “Felipe, a sobremesa hoje é cheese-cake com calda de framboesa”. “Calda de framboesa” é para deixar passar; se dissesse “calda de amoras”, poderia manter a posição. E o teatrinho no final? “Felipe Massa is back!” Tenham dó. Mais: Alonso perguntando de um problema de câmbio no carro do companheiro! Afemaria. Querem enganar quem, exatamente?
Aula de interpretação já, é tudo que dá para recomendar a esses caras. Ou que fiquem quietos. Principalmente porque aquele “sorry” do mesmo Smedley acabou denunciando tudo.
As ordens de equipe que interferem no resultado de uma corrida são proibidas. Isso já seria suficiente para punir a Ferrari. Mas a regra é besta. Porque se fosse uma decisão de título, ninguém iria discutir o que aconteceu. Imaginem na última corrida do ano Alonso em primeiro, Massa em segundo precisando vencer para ser campeão, o que aconteceria? O mesmo. Alonso deixaria Massa passar e ponto final. E todos achariam certo. Portanto, uma regra que é sujeita ao momento de um campeonato não funciona. Por que punir hoje e não punir, por exemplo, numa eventual ordem em fim de temporada, quando algo parecido torna-se aceitável?
A questão toda é ética e esportiva. Regulamento que diz que ninguém pode ser antidesportivo é meio idiota. Isso está implícito em qualquer esporte. Colocar no papel a obrigação de ser honesto leva a situações ridículas como a de hoje. Nisso, Coulthard tem razão. Ele disse que a FIA deve aceitar que uma equipe tome suas decisões. Pode-se gostar ou não delas, mas deve-se reconhecer o direito que os times têm de fazer o que acham melhor. E cabe aos pilotos aceitarem ou não a posição que lhes é imposta.
Exigir ética, lisura e honestidade por escrito é bobagem. Essas coisas ou a gente tem, ou não tem.




N’ALEMANHA (6)

SÃO PAULO (quem fala…) – Parece até sacanagem, mas Michael Schumacher defendeu as ordens de equipe dizendo, apenas, que elas “não podem ser tão óbvias”. É preciso dar uma disfarçada, em resumo. Algo que a Ferrari não fez com ele e Barrichello em dois GPs da Áustria, em 2001 e 2002.
Mas à parte a pegação no pé do alemão, que se beneficiou dessas coisas muito menos do que se imagina, porque não precisava com frequência, está na hora mesmo de a FIA acabar com essa hipocrisia de proibir ordens de equipe. Como dito no último post, ninguém estaria discutindo nada se algo parecido acontecesse na última corrida do ano valendo título. Nem a FIA multaria ninguém em ridículos 100 mil dinheiros, como fez com a Ferrari.
As ordens acontecem aos montes, só que com frases diferentes. Ninguém diz no rádio para tirar o pé e deixar o companheiro passar. Usam-se eufemismos: “Meu querido, mude a mistura para G8 e poupe o motor”, diz um engenheiro; ”Honey, seu consumo de óleo está alto, a temperatura do assento subiu, há uma vibração na gaveta do toca-fitas, acho melhor reduzir o ritmo”, pede outro.
F-1 é um esporte coletivo e cada time faz o que quiser. Desde que, claro, não mande alguém se espatifar no muro, ou segurar um adversário com manobras desleais. Como também já foi dito, as equipes que tomem suas decisões e aguentem as consequências, como a reprovação de fãs e torcedores, a imagem arranhada, a execração pública. E a contrariedade dos pilotos.
O problema hoje foi o comportamento dúbio de Massa. Deixou passar e ficou emburrado, dando a impressão de que a ordem o emputeceu. Depois, disse que foi ele quem decidiu deixar, que não houve ordem alguma.
O negócio é o seguinte: se houve ordem e atendeu, não reclame. Ou, então, se negue a fazer o que mandaram e acabou. Depois vai resolver a situação a portas fechadas. Se foi ele mesmo quem decidiu permitir a ultrapassagem, que não diga coisas como “não preciso falar nada”, insinuando que estava obedecendo ordens, e que era isso ou a guilhotina.
Do jeito que fez, Massa conseguiu que todo mundo ficasse com raiva da Ferrari, com raiva dele e com raiva de Alonso. Poucos ficaram com peninha do brasileiro. Ele será tratado como vítima, na Globo principalmente, mas não é. Mais ou menos como aconteceu com Barrichello em Zeltweg. Não adianta fazer bico. A tromba acaba jogando o público contra a equipe. E aí sim a equipe se irrita. Bastante.
Como já falei, e estou me tornando repetitivo, é preciso saber dizer “não” às vezes. E se for dizer “sim”, que se diga com um sorriso no rosto. O gozado é que de Felipe eu juro que não esperava isso. No seu primeiro ano de F-1, lembro claramente de ele ter peitado Peter Sauber numa corrida não sei onde. O companheiro de equipe era o Heidfeld, creio, e ele recebeu a ordem para deixar o alemão passar. Mas não deixou e na entrevista depois da corrida, falou que o rádio estava quebrado.
Doce molecagem, que poderia ter repetido hoje. Insisto que, para mim, ganharia pontos com tal atitude. Junto aos mecânicos, aos torcedores, ao seu engenheiro. Alguém ficaria puto no time, mas depois entenderia. O que se espera de um piloto é que ele lute por vitórias, não por empregos. O mundo do esporte, em algum momento, sabe recompensar quem age assim.
Quanto à Ferrari, sigo defendendo a tese de que ninguém deve ficar indignado ou revoltado com “essa nojeira”, “essa sacanagem com o Brasil”, essas coisas chiliquentas. A equipe é apenas burra. Não porque, como sugere Schumacher, não sabe disfarçar; mas porque resolve dar ordens estapafúrdias em momentos inadequados.
Hoje, não tinha sentido nenhum mandar Felipe deixar passar. No dia em que o brasileiro festejava o fato de estar vivo exatamente um ano depois do acidente horroroso que quase o matou na Hungria, uma vitória seria muito mais importante para ele, repleta de significados, do que para Alonso.
O espanhol, graças a mais uma patuscada italiana, ganhou sete pontos na tabela e anexou uma legião de torcedores antipáticos à sua causa quixotesca, que é tentar conquistar o tricampeonato com um carro pior que os de McLaren e Red Bull. E não serão esses sete pontos que vão resolver os problemas de Maranello.
Quanto a uma punição maior que os 100 mil dinheiros, seria engraçado se isso acontecesse. Principalmente na gestão de Jean Todt como presidente da FIA, justo aquele que já decidiu Paris-Dacar na moedinha e que não teve a menor vergonha de fazer o que fez na mesma Ferrari naquelas já distantes corridas austríacas.
E chega desse assunto.




MUITO ALÉM DO CONTRATO

SÃO PAULO (estoy cansado) – Eu jamais me sentiria assim, como torcedor, porque há muito tempo deixei de dar grande importância a certas coisas, exceção feita à Portuguesa. Mas acho que o comentário deixado num dos posts abaixo, assinado pelo Francisco Menezes, ilustra bem o tamanho da repercussão de uma atitude como a que tomou Massa ontem na Alemanha.
Chico é um conhecido meu que mora em Munique. Há alguns anos foi trabalhar na Alemanha e acabou se instalando no país. Tem uma vida dura, trabalha numa empresa e faz uns bicos de motorista nos finais de semana, mas vai se virando numa boa.
Leiam, e depois eu volto.
Oi Flavio, tudo bem? Sou o Chico de Munique, se lembra?
Pois bem, ontem estive em Hockenheim com meu filho mais novo para torcer pelos brasileiros. Fomos de camisa do Brasil, boné do Brasil, duas bandeiras do Brasil e uma bandeira da Ferrari. Acompanho F-1 desde que Emerson foi bicampeão, portanto não aprendi a torcer somente depois de Ayrton Senna.
Porém, acho que me deixei envolver pela transformação que Ayrton Senna fez na F-1 para nos brasileiros. Acabei sempre torcendo pelo país, e nãopelo piloto, muito menos pela equipe.
Quando decidi passar o final de semana em Hockenheim, decidi ir lá para torcer pelos brasileiros e não por apenas um deles ou apenas por uma equipe.
Flavio, o Felipe Massa me puxou o tapete, cara…
Eu e meu filho levantamos a bandeira do Brasil durante 47 voltas, e gritávamos “vai Felipe” ou “vai Brasil”.
Flavio, fiquei morrendo de vergonha dos estrangeiros sentados perto da gente. Não consegui me despedir dos caras ou olhar na cara deles.
Será que o Felipe Massa entende que além de trabalhar na Ferrari ele também tem milhões de fãs brasileiros que hoje estão arrasados? Ou talvez deveriam apenas estar chateados?
Flavio, Felipe Massa não merece mais meu respeito (pois mostrou ontem que não me respeita) e NUNCA MAIS minha torcida.
Hoje entendi muito melhor por que se toca o hino do piloto e o hino do país da equipe no pódio.
Acho que no caso do Felipe Massa, ele não deveria mais ter o hino nacional brasileiro tocado no pódio. Ele não respeitou a pátria ontem.
Se algum dia ele pedir desculpas aos fãs, eu não aceito! Que apareça mais um piloto brasileiro com aquilo roxo.
Felipe Massa não se deu o respeito. Não deve esperar que a gente o respeite. Sua reputação, sua dignidade e sua honra foram jogadas no lixo ontem.
Eu discordo visceralmente do Chico. Não acho que pilotos representem pátrias, não gosto dessa mistura de esporte com nacionalismo, acho que há um enorme exagero nessas coisas. Mas reconheço que elas existem. E se como jornalista estou pouco me lixando para os resultados de seja lá quem for, entendo que as reações dos torcedores são bem diferentes e devem ser levadas em conta por aqueles que, no fim das contas, são pagos por eles.
Por isso que Massa, e qualquer outro atleta, deve refletir bem antes de tomar certas atitudes. Elas atingem milhões de pessoas que os seguem por diversos motivos. Pensar individualmente, em alguns casos, soa egoísta. Se o discurso oficial da Ferrari é o de que seus pilotos devem pensar na equipe, coletivamente, é fácil rebatê-lo dizendo que quando se fala em coletivo, deve-se contemplar também a massa de torcedores que se deslocam para um autódromo, gastam seu dinheiro comprando camisetas e bonés e bandeiras e ingressos, alimentam uma expectativa legítima e sincera.
Se Felipe (e isso vale para qualquer piloto, não vou individualizar nada aqui) se recusasse a acatar a ordem de deixar Alonso passar, ou — acreditando na cascata de que a decisão foi dele — brigasse pela vitória, estaria dando uma resposta a muito mais gente do que a meia-dúzia da cúpula ferrarista a quem decidiu agradar. Gente que também paga seu salário. Seria difícil até na Ferrari alguém ficar contra sua decisão.
Mensagens como a do Chico apareceram aos montes nos comentários feitos pelos blogueiros. “Nunca mais acordo cedo para ver esse cara”, “Vou cancelar meu ingresso para Interlagos”, “Ele não merece minha torcida”, é só ler, tem muita gente se manifestando assim.
Continuo achando tudo um exagero, as pessoas não deveriam levar um esporte tão a sério assim. É só uma corrida, ou só um jogo de futebol, o mundo não vai acabar porque um ganhou e o outro perdeu, esporte é entretenimento, devagar com o andor.
Mas é bastante claro que no esporte muita gente encontra uma válvula de escape para suas mazelas pessoais, isso no mundo inteiro, com maior ou menor intensidade, depende do país. No esporte se procura o sucesso e se foge do fracasso, há uma transferência de sentimentos, muito disso tudo acaba virando demonstração de carência, as pessoas precisam de ídolos para compartilhar suas vitórias, se apropriar delas. Se sentem traídas, violentadas, quando decepcionadas, quando a atitude de seu ídolo não é aquela que se esperava.
É algo que precisa fazer parte das preocupações de um esportista, por mais infantil que possa parecer.
Lá do Blog do Victal:


A involução do homem

SÃO PAULO | A maior decepção não é nem com o episódio em si. Porque seria otimista demais pensar que qualquer equipe, ainda mais a Ferrari, se furtasse de fazer suas combinações ou manifestasse suas preferências, intramuros ou ao vivo para todo mundo ouvir e ver. Armações — e talvez o termo seja meio forte para definir, mas nenhum deixaria de remeter ao que é, uma armação, uma manipulação — fazem parte de todas as estratégias. Ninguém passa horas num briefing decidindo a obviedade de uma corrida com uma parada nos boxes ou analisando dados de telemetria. Nas reuniões se decidem rumos e são colocadas hipóteses que precisam ter soluções. Evidente que aquela situação de Massa à frente, bem plausível, foi debatida por Domenicali e sua curriola. Só que a italianada de hoje não era esperta como antes. Que seja.
É com Massa, a questão. É essa coisa de pensar que se esperava um pouco mais — ou muito mais, no caso — de alguém por sua conduta ao longo destes anos, também porque tem no currículo o item da negativa a compactuar com uma troca de posições, quando corria pela Sauber, há oito temporadas — ainda que, provas depois, na mesma Hockenheim, tenha aceitado. É aquilo de se olhar para o perfil e concluir, até com orgulho, que o esportista, o piloto e o homem Massa não carregava o gene da subserviência total e irrestrita ao seu empregador que está presente em Barrichello e Nelsinho.
Se Massa se recusasse a dar a vitória para Alonso — que deve ter sido criado pela avó em um condomínio fechado em Oviedo, cheio de mimos e dono de todas as bolas e os carrinhos —, provavelmente não ia mudar nada. A Ferrari não iria sabotá-lo. Já que Alonso seria, ou é, o homem escolhido para seguir o caminho do título, não faria sentido colocar um lastro de 257,5 kg ao lado do motor ou comprar uma Hispania e pintá-la de vermelho e dar na mão do brasileiro. Um Massa andando na frente é muito mais útil. E a Ferrari, com a experiência que teve no ano passado, jamais cogitaria promover um reserva. Fisichella, Gené e Badoer juntos fariam pior. Se Felipe fizesse corpo mole, aí são outros quinhentos. Mas acho, já não coloco nem uma unha no fogo, que não faria isso.
Mais: Massa acabou de renovar um contrato. Ainda que a Ferrari tenha um histórico recente de uma quebra, Raikkonen não fez levantou um copo de vodca para manter o acordo. Se quisesse, mesmo, era Kimi quem estaria sentado ali no carro 8. Portanto, seria mais digno para o esporte, para a F1 e para o homem Massa ganhar a corrida em Hockenheim. Para o público, que é quem no fundo da vida a esta patacoada toda. A balança pesaria bem mais para o lado bom. Alonso que reclamasse, chorasse, pedisse o tetê e fizesse mimimi na cama quente.
E mesmo assim, se a Ferrari fosse uma desalmada, boba e cara-de-mamão e rasgasse o papel com a assinatura de Massa, que ele soubesse que há vida fora da Ferrari, como ele já teve oportunidade de viver e dispensou, talvez achando que na McLaren fosse ocupar o papel oficial de segundo piloto que ele vinha escondendo e assumiu ontem, da pior forma possível.
Porque Massa fez parte de um esquema que brincou com a inteligência do mundo. A Ferrari viu lá que a hipótese 3 ou 4 de seu plano de prova acontecia, mais pela falta de inteligência de Vettel do que por virtude de seus pilotos ou excelência de sua estratégia, e para promover o combinado, soltou via rádio o código da troca de posição, silabado, que fez até quem não entende inglês inteligente, justamente na corrida em que todas as transmissões de rádio estavam abertas. Pior é a desfaçatez de negar no vazio de desculpas sem sentido e as divagações das respostas das perguntas incisivas dos jornalistas.
Sendo que tudo estava ali, ridiculamente, na nossa cara, no “sorry”, na comemoração chocha de Alonso, na cara de choro de Massa, no “não preciso dizer nada” que disse na coletiva. E quando disse, não deveria ter dito que partiu dele e que agiu pela famiglia di Maranello. Se Massa quisesse fazer uma benfeitoria para a equipe, não teria disputado posição lado a lado no único momento em que Alonso tentou ultrapassá-lo. Daria a posição da forma que Schumacher indicou, do alto de sua larga experiência em benefícios neste cenário, “legal e não óbvio”. Se não pensou em uma benfeitoria para o esporte e para a F1, que fizesse a si, no seu aniversário e em homenagem ao tio morto. Felipe acatou a ordem, vinda no momento errado, e como vimos há oito anos na Áustria, diminuiu o ritmo e abriu para o primeiro piloto. E nós-en-ten-de-mos a men-sa-gem: Felipe age sob uma “cláusula Barrichello”. No seu primeiro ano, o mundo acompanhava Felipe dar seu primeiro e maior passo, meio que seguindo o que Webber fez há poucos dias. Caiu. Ra-pi-di-nho.
Massa nasceu, cresceu, renasceu e poderia crescer muito mais. Cometeu suicídio.


Da Coluna de Daniel Dias:


O tiro no pé da FIA

Uma coisa que eu sempre respeite e coloquei como prioridade são as opiniões das outras pessoas. Acompanhei todas as opiniões de vocês no recordista post anterior, dos culpados da maracutaia de Hockenheim. Apesar de amar a F-1, não tenho e nem quero ter procuração para defendê-la. A maioria aqui ameça deixar de lado a F-1. Esse é o maior mal de uma tramoia desse tipo. E é exatamente assim que os dirigentes da F-1 devem, ou deveriam, agir: punir os culpados. A FIA deveria punir a Ferrari logo depois da prova, eliminando os dois pilotos do resultado da corrida. Multa para a Ferrari não faz nem cócegas no caminhão de dinheiro do orçamento daqueles caras.
Não existe um item do regulamento que proíbe o jogo de equipe? Existe. Quem redigiu o regulamento? A FIA. A entidade mesmo mostrou a maracutaia em andamento na transmissão pela TV. Então, que pune. Perdeu a oportunidade para dar o exemplo no domingo. Mas tem a chance de se recuperar na reunião do Conselho Mundial.
No GP da Austrália de 2002, não tinha nada escrito no regulamento contra o jogo de equipe. A Ferrari naquela vez foi só imoral. Como agora tem a regra, a Ferrari foi imoral e ilícita.
Jean Todt, esqueça seu amor pela Ferrari e mude o resultado dessa corrida. Se não, as pessoas vão mesmo procurar outra coisa para fazer. E com toda a razão.
Alguém disse aqui que o Alonso está no meio das maiores falcatruas dos últimos anos na F-1 (tendo culpa ou não): escândalo da espionagem promovido por pessoas da McLaren, em 2007, manipulação  de Cingapura de 2008 e agora. E não é que o cara tá mesmo?




Da Coluna de Rafael Lopes:


‘Hoje sim, hoje sim…’


dom, 25/07/10
por Rafael Lopes |

Massa e Alonso no GP da Alemanha
Confesso que gostaria de escrever sobre o que aconteceu dentro da pista, falar da reação dos carros da Ferrari e do bom desempenho de Massa e Alonso com os pneus duros. Mas não dá. O GP da Alemanha acabou se transformando em uma daquelas páginas negras na história da Fórmula 1, assim como o GP da Áustria de 2002 (quando Barrichello recebeu ordens para deixar Schumacher passar na reta de chegada). Infelizmente, mais uma corrida da categoria foi decidida na canetada. Ou melhor, pelo rádio. A Ferrari usou mais uma vez do jogo de equipe para decidir o vencedor de uma prova. Até entendo a decisão – pautada pela pontuação dos pilotos no campeonato – mas não posso concordar com ela de maneira alguma. Não dá para salvar ninguém nesta decisão: equipe, pilotos e comissários são culpados. Um absurdo em Hockenheim.
Desta vez, toda a atitude da Ferrari foi acintosa. Como a partir desta corrida todas as comunicações por rádio estavam liberadas para a transmissão oficial, as conversas da equipe italiana foram exibidas sem censura para todo o mundo. Alonso foi o primeiro a ser exposto na TV. Como Massa estava na ponta e tinha dificuldades para aquecer os pneus duros, o espanhol tentava a ultrapassagem, mas o brasileiro defendia com ímpeto. Ele reclamou com seu engenheiro nos boxes e chamou a atitude de “ridícula”. Após esta pressão, Massa conseguiu abrir uma boa vantagem. A partir da 40ª volta, o bicampeão voltou a se aproximar da outra Ferrari.
Então começou a segunda parte da novela do rádio. Falando pausadamente, Rob Smedley, engenheiro de Massa, informou que Alonso estava mais rápido e pediu que o brasileiro confirmasse o entendimento da mensagem. Na 49ª volta, o brasileiro quase parou seu carro na pista para que o bicampeão o ultrapassasse. Relegado à segunda posição, Felipe chegou a receber um pedido de desculpas de Rob Smedley.
Com o problema “resolvido”, a Ferrari conseguiu sua segunda dobradinha da temporada 2010, mas o incidente seria investigado pelos comissários. Uma hora e meia depois, eles anunciaram uma rídícula punição de US$ 100 mil (cerca de R$ 178 mil), mas o caso ainda será levado ao Conselho Mundial da FIA. Para mim, ficou muito barato. Era caso para, no mínimo, desclassificar os dois pilotos e aplicar uma punição maior para a equipe, como uma suspensão ou até mesmo uma multa milionária, que realmente fizesse diferença no bolso ferrarista.
Como já disse, não dá para isentar ninguém neste caso. Massa, obrigado a ceder a posição para Alonso, também tem sua parcela. Primeiro, ele obedeceu a ordem do time e não reclamou nas entrevistas pós-corrida. Depois, o brasileiro, indiretamente, acabou ficando preso na própria “armadilha”. O desempenho dele não é dos melhores neste ano (entre azares e problemas na adaptação ao carro) e a Ferrari só resolveu favorecer o espanhol porque a diferença entre ambos era muito grande no campeonato. Depois, esta atitude, por mais que ele negue a ordem, contraria tudo o que ele disse desde a chegada de Alonso no time: de que não seria o segundo piloto. Após Hockenheim, Massa assume oficialmente a posição de escudeiro do espanhol em 2010.
A Ferrari e Alonso, sem dúvidas, são os maiores culpados neste caso. A equipe parecia ter abandonado a postura de privilegiar um piloto, apenas adotando-a em casos extremos, como uma decisão de título. Mas este está longe de ser um exemplo disso. A decisão foi precipitada e depõe muito contra a imagem do time italiano. Já Alonso adotou uma postura completamente errada nesta corrida. Ao reclamar que Massa estava bloqueando seu caminho, ele perdeu completamente a razão. Para piorar, depois da corrida, comemorou como se nada tivesse acontecido. Não é uma postura que se espera de um piloto duas vezes campeão do mundo na F-1.
E ainda tem o seguinte: depois do GP da Europa, em Valência, a Ferrari e Alonso reclamaram de manipulação na corrida após a demora em punir Lewis Hamilton. O que dizer disso agora? Não foi manipulação? Mas agora a equipe italiana foi a responsável e a beneficiada pela armação. Cadê as declarações infladas do espanhol? Luca di Montezemolo e Stefano Domenicali irão reclamar? É claro que não.
Para encerrar, não acredito em punição esportiva na reunião do Conselho Mundial, que ainda não tem data para acontecer. Acho que o valor da multa será aumentado sim, até porque o atual parece uma piada sem graça. Defendo a desclassificação de ambos os pilotos, mas conheço a politicagem que envolve as decisões da FIA. Com o argumento de não “prejudicarem o campeonato”, a Ferrari escapará ilesa. É o que sempre acontece. Aliás, quem é o presidente da FIA mesmo? Jean Todt. Acho que vocês entenderam a mensagem…






Da Coluna de Alberto Luchetti:

Peça demissão, Massa

26/07/2010

O simples ato de pegar o telefone e acionar o despertador automático da Telefônica virou uma repetição até monótona na minha vida. Sem intenção de justificar o hábito de fazer sempre a mesma coisa do mesmo modo, me conforto, talvez, com o fato de dormir sempre tarde e acordar cedo. Há muitos anos, no entanto, me dou ao luxo de romper essa seqüência aos sábados. Durmo mais tarde ainda e acordo a qualquer hora no domingo. Desapego-me, por um dia, da rotina. Não deixa de ser uma sensação tola de liberdade.
Nesse final de semana, empolgado pelo noticiário, resolvi manter o ritual de todos os dias e acordar cedo. Analisando friamente, a escolha era a certeza que haveria um domingo de vários e empolgantes embates. Da política ao futebol. Do vôlei à Fórmula 1. Um dia especial de muitas, lutas, batalhas e pelejas. Animado resolvi me preparar para conjugar, corretamente, o verbo pugnar.
O DataFolha apurou e a Folha estampou manchete sobre o empate técnico entra Dilma Rousseff e José Serra. Na noite de sábado, a seleção brasileira de vôlei acabava de vencer a renovada seleção de Cuba,por 3 x 1, e, conseqüentemente, se classificava para disputar a final da Liga Mundial, no domingo, contra a forte e invicta seleção da Rússia (que, enfim,também foi derrotada pela trupe de Bernardinho).
O meu Palmeiras, considerado pela crítica esportiva como a zebra da rodada, jogaria desfalcado, com Tinga como titular, contra o Ceará, lá em Fortaleza, no Castelão. E, não bastasse tanta emoção, o nosso Felipe Massa largaria em terceiro lugar, atrás apenas do alemão Sebastian Vettel e do espanhol Fernando Alonso, no Grande Prêmio da Alemanha, em Hockenheim, com muita chance de surpreender.

Confesso que não titubeei. Acionei o telefone. Às 8h30 do domingo, o despertador tocou. Levantei, me preparei higienicamente, tomei café e peguei a revista Veja. Ironicamente a manchete era perdoar para aliviar a mágoa.
Quando liguei a televisão, os motores já “estavam roncando”. Rolava a volta de apresentação e a corrida de Fórmula 1 iria começar. Todos posicionados, luz vermelha e é dada a largada. Massa surpreendeu antes da primeira curva. Enquanto alemão Vettel jogava seu carro para a direita, impossibilitando qualquer ultrapassagem do espanhol Alonso, Massa acelerava e passava pelos dois, pelo lado esquerdo, assumindo a primeira posição.
Um raio atingiu a minha memória e me transportou para a década de 1990, quando Ayrton Senna - como fez Felipe Massa - se aproveitava das pequenas falhas de seus adversários e dava verdadeiras aulas de pilotagem, com ultrapassagens empolgantes. O domingo começava com tudo para ser bem especial.
Minha suspeita não estava errada. Pelo menos até a volta número 49, quando o líder da prova Felipe Massa atendeu a uma determinação dos boxes da Ferrari e deixou Fernando Alonso passar à sua frente. Encostou para a esquerda, desacelerou e ficou em segundo lugar. Uma vergonha para Massa, para Alonso, para a Fórmula 1 e para o esporte em geral. O que falar agora deste domingo dia 25 de julho de 2010?
Não pretendo exagerar, mas a minha frustração das 10 horas deste domingo foi tamanha que me fez lembrar o dia 3 de maio de 1994, quando Ayrton Senna passou direto pela curva Tamburello, a 300 quilômetros por hora, na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, no autódromo de Ímola, na Itália, espatifando-se no muro de concreto.
Também não vou comparar, mas fiquei parado e profundamente atônito este domingo, como fiquei em 1994, quando anunciaram que Ayrton Senna da Silva, 34 anos, tricampeão mundial de Fórmula 1, 41 vitórias em Grandes Prêmios, 65 pole-positions, um dos maiores fenômenos de todos os tempos no automobilismo, estava morto.
Os dois casos são completamente diferentes, mas esses episódios da Fórmula 1 me deixaram perplexo da mesma maneira. Um pelo comprometimento profissional e o outro pelo apego ao business. Talvez porque, no fundo, ambos os casos tenham sido de morte. A de Senna foi física; a de Massa, moral.
Cumprir ordens na relação patrão e empregado tem limites. Manda quem pode, obedece quem tem juízo - eis uma máxima que nunca admiti e com a qual jamais concordei. Massa, em troca de seus dólares, foi (e é) um fraco. Não culpo a Ferrari, nem Alonso, tampouco os responsáveis pela Fórmula 1. O único culpado é Felipe Massa.
Os dirigentes da Ferrari só exigiram essa atitude de Massa porque sabiam com quem estavam lidando. A Ferrari tem consciência do tamanho de Massa. Conhecem a sua estreiteza. A sua pequenez. Não teve e não há um profissional no automobilismo mundial que tivesse a ousadia de pedir isso para Ayrton Senna. A atitude de Massa domingo mostra que esse jovem brasileiro não tem solidez, nem consistência. É um medíocre.
Não é possível fazer qualquer comparação entre Massa e Ayrton Senna. A começar pela estatura, seja física ou moral. Na verdade, não ouso criar uma figura de linguagem para realçar semelhança entre os dois. Os exemplos, segundo minhas intenções, são apenas para “apimentarem” a fragilidade de Massa.
A mim, que já assisti muita coisa na vida, permita Massa, um conselho: pare ao final desta temporada. Você, com essa atitude, demonstrou não ter brilho próprio. Não adianta continuar. Não estará nunca entre os grandes do automobilismo brasileiro como Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Nelson Piquet ou Ayrton Senna. Você conseguiu ser pior que Rubens Barrichello, piloto brasileiro que mais disputou corridas de Fórmula 1 e aquele que menos ganhou.

Pare. Mude de profissão. Dinheiro não é mais problema. Por favor, Felipe Massa, nos poupe de domingos tão frustrantes como esse 25 de julho de 2010. Você é um meão, compenetre-se. Estar entre o bom e o mau é não estar. O bom é o Alonso, que ganhou, e o mau foi quem mandou você deixá-lo passar, e você deixou.
Para a sua submissão só existe uma saída honrosa. Peça demissão.









Da Coluna de Alexandre Perin:


GP DA ALEMANHA: Hoje não… Hoje não… Hoje sim… DE NOVO!

25 de julho de 2010 | Categorias: Fórmula 1Premiações Especiais
Fernando Alonso venceu pela segunda vez na temporada (a 1° foi na corrida de abertura da temporada), em mais um GP de Fórmula-1 marcado pela polêmica. Uma escandalosa ordem de equipe para Felipe Massa deixar Alonso passar na volta 49°, abriu caminho para a vitória do espanhol.
Em terceiro Sebastien Vettel que jogou fora a vitória após uma largada ridícula na qual saiu devagar e ainda espremeu perigosamente Alonso no muro, perdendo a posição para os dois da Ferrari.
A corrida transcorreu em vários tons de monotonia e teve pouca emoção, mas com quatro pilotos se esforçando depois de duplos acidentes envolvendo as duas Toro Rosso e as duasForce India, uma batendo na outra e todos permanecendo na prova. Rubens Barrichello se atrapalhou na largada e depois não conseguiu superar os carros à sua frente, terminando fora dos pontos depois de duas ótimas corridas.
Já o líder do campeonato Lewis Hamilton fez uma boa prova e chegou em quarto, seu máximo possível diante das circunstâncias. Foi beneficiado pela péssima prova de Mark Webber, que chegou em sexto, e pelo desempenho mediano de Jenson Button. Os dois da McLaren seguem na frente.
Fim do assunto da corrida, vamos a polêmica. Achei estranhíssimo selecionarem um trecho do Alonso quase inaudível, pois normalmente escolhem comunicações do engenheiro para o piloto. Quando ele falou eu pensei ter ouvido o ‘it’s ridiculous’. Tive certeza quando o Luciano Burti disse que não ia se complicar pois pode não ter entendido direito.
Algumas voltas depois, Massa ouviu claramente do seu engenheiro, Rob Smedley que Alonso era mais rápido: “Fernando está mais rápido que você. Você confirma que ouviu a mensagem?” . Na volta 49, após o grampo Massa acelerou a meia-força e deixou Alonso passar. Um patético “Desculpe” veio do mesmo engenheiro logo após a ultrapassagem. No final da prova, o mesmo engenheiro disse que Massa foi “magnânimo”.
Ele foi irônico e sua contrariedade após a corrida na coletiva oficial: “Bom, não preciso dizer nada sobre isso. Não cometi erro, ele me passou. A única coisa que sinto é que estávamos trabalhando pela equipe, e isso é o mais importante”
Sendo objetivo:
  • As chances de Alonso ser campeão são mínimas, quase 50 pontos atrás. Mesmo que a Ferrari continue ganhando todas as corridas (o que é praticamente impossível na equilibrada F-1 de hoje), a Red Bull e a McLaren teriam que cometer muitos erros e a Scuderia de Maranello nenhuma.
  • Massa tinha todo o emocional a seu favor, primeira corrida liderando, há 1 ano quase morreu.
  • Nem sempre o melhor carro consegue ultrapassar, mesmo que tente
  • Se não ocorre uma punição para a Ferrari, no Artigo 39.1 do Regulamento Esportivoque diz: “Team orders which interfere with a race result are prohibited” (traduzido:“Ordens de equipe que interferem no resultado da corrida são proibidas”).
  • Esta regra do jogo de equipe se não for aplicada hoje, tem que ser banida do regulamento.
    A Ferrari acaba de ser convocada para explicações aos comissários de prova, mas não vai dar em nada. Infelizmente.
IMAGEM DO DIA vem do Twitter: @LucianoBurti Resumindo:  http://yfrog.com/mj6qpj
No Twitter do Luciano Burti quando este escreveu o mesmo que eu ouvi - Reprodução Twitter @LucianoBurti
No Twitter do Luciano Burti quando este escreveu o mesmo que eu ouvi - Reprodução Twitter @LucianoBurti
A comunicação de boxes monitorada pela FIA começou justamente por causa da vergonha doLet’s Michael pass for the Championship no GP da Áustria de 2002 contra o também brasileiro Rubens Barrichello. Pela primeira vez na história da categoria, um vencedor foi vaiado escandalosamente ao final da corrida, assim como o pódio. Vejam de novo:
Em tempo, eu não deixaria o Alonso passar. Que se ralasse. Estou milionário, consigo emprego em outra equipe e estou me lixando. Ou definitivamente está comprovado que existe a “Cláusula Barrichello” nos contratos da Ferrari.
Como disse meu amigo Maurício Neves de Jesus, quando a coletiva é mais importante que a corrida, o esporte está doente. Só a Ferrari consegue fazer uma dobradinha sensacional em algo vergonhoso.
Uma pauta para a amiga Juliana de Brito: qual o papel da imprensa?  Noticia, torcer ou distorcer? A péssima e bairrista imprensa espanhola se superou. O Marca e o AS simplesmente ignoraram a ordem de equipe e o Marca ainda conseguiu dizer que Massa “enfeiou” o triunfo da Ferrari.
A imprensa inglesa reclamou, o sensacionalista alemão Bild disse “vitória fraudulenta sobre Vettel”. E a imprensa brasileira soltou os cachorros. Até a Gazzetta dello Sport criticou a Ferrari pela ordem de equipe.
Envolvidos na categoria também falaram:
Eddie Jordan, ex-dono da equipe Jordan: “Foi ilegal e foi roubo. Eles nos roubaram a chance de ter uma disputa roda-a-roda entre pilotos. A Ferrari deveria ter vergonha”

Niki Lauda, tricampeão mundial de F1 (uma delas pela Ferrari): “Vergonha” 
Christian Hornes, diretor da Red Bull: “Foi a ordem de equipe mais clara que eu já vi. É errado para o esporte. Os pilotos deveriam ter a permissão de disputar. Massa fez o melhor trabalho. Ele estava na liderança e as regras são bastante claras: ordens de equipe não são permitidas.”
Bom, vamos aos prêmios…
PREMIAÇÕES ESPECIAIS DO ALMANAQUE ESPORTIVO - F1-2010 (copyright by “Buteco Racing“):

Troféu “Jim Clark” - Para a bela corrida de Felipe Massa, 1 ano após quase morrer no GP da Hungria
Troféu “Rouge & Blanc” - Para Adrian Sutil, que foi atingido por Vitantonio Liuzzi e mesmo assim passou a corrida inteira andando rápido e tentando ultrapassar os outros.
Troféu “Chris Amon” - Para Lucas di Grassi, que fazia ótima prova para seubs objetivos e andava à frente das Lotus quando quebrou mais uma vez.
Troféu “Fiofó de Ouro” - Para Alonso, por ser piloto de uma equipe que joga contra o esporte, a Ferrari
Troféu “Didi Mocó Prize For Technical Achievements” - Para as trapalhadas dos segundos pilotos Jaime Alguesuari e Vitantonio Liuzzi, que acertaram os primeiros pilotos Sebastien Buemi e Adrian Sutil na largada.
Troféu “Porquê Eu Não Fiquei Com Minha Boca Fechada” - Para todos os envolvidos no “Radiogate Ferrari”.
Troféu “Dick Vigarista” - Preciso falar? Ferrari, claro.













Do Texto de Tom Capri:

Há anos, tenho denunciado que a Fórmula 1 virou jogo de cartas marcadas, ou seja, pura farsa. E que a Ferrari e as equipes continuam não sabendo jogar direito esse jogo, ou seja, não sabendo encenar direito a farsa. Neste domingo, no GP da Alemanha, isto ficou mais do que provado.

Hoje, quem financia a Fórmula 1 são os pilotos, via patrocínio. Eles arrumam os patrocinadores e em seguida “compram” a equipe e a condição de piloto número um, tenham talento ou não. Se tem talento e o melhor carro do Mundial, esse piloto que “comprou” tudo acaba campeão. Seu companheiro de equipe ficará reduzido a “escada”, seja melhor ou pior do que o “número um”.

É o que vimos claramente neste domingo com Fernando Alonso, é o que aconteceu, por exemplo, com Michael Schumacher em pelo menos quatro dos sete títulos mundiais que conquistou. Schumacher “comprou” na época a Ferrari e a condição de número um. Rubinho foi seu “escada”. Este ano, acontece o mesmo, e de novo, com Massa na Ferrari, Mark Webber na Red Bull e com outros pilotos.

Só que, como com Rubinho em passado recente e com Massa nas temporadas anteriores, a Ferrari e as demais equipes continuam não sabendo jogar esse jogo. Há alguns anos, Rubinho cedeu aquela passagem escandalosa a Schumacher, e apesar de toda a polêmica levantada na época, saiu depois da Ferrari com a fama de “pé-de-chinelo”. Recentemente, Mark Webber e Sebastian Vettel acabaram jogando o carro um em cima do outro, pelo mesmo motivo.

Neste domingo (25/7), foi a vez de Massa “ser forçado” a dar passagem a Fernando Alonso, e depois dizer, na coletiva, que “não precisava explicar nada a respeito”, para Rubinho arrematar: “É tudo aquilo que já conheço”. E Massa já é o mais novo candidato a “eterno vice” e a “pé-de-chinelo”. Já, já, virão os Tutty Vasquez de plantão, com seu humor chinfrim, para dizer isso de Massa. Aguarde.

Massa é melhor e mais rápido que Fernando Alonso. Já provou isto suficientemente, inclusive neste domingo. Mas já corre mundo afora, principalmente no Brasil, sempre entre os fãs menos informados, que Alonso é “melhor que o brasileiro”. Muitos fãs até dizem que, se Massa fosse realmente bom, já teria ganhado um Mundial. Desconhecem que a Fórmula 1 é essa farsa.

Outros dizem: “Se a Fórmula 1 é essa farsa, por que Ayrton, Piquet e Émerson conquistaram vários títulos?” Também não se deram conta, ainda, de que só de uns 15 anos para cá, desde a morte de Ayrton, que a Fórmula 1 tornou-se esse negócio milionário que só dá títulos aos pilotos que mais entram com grana, com o que imediatamente conquistam a condição de número um e ganham título.

E há ainda os que dizem que Massa, da mesma forma que Rubinho, não tem perfil de campeão, como Alonso, que grita, esperneia, não dá passagem para ninguém e não deixa barato. Esses dias, inclusive recebi mensagem de leitor fã de Fórmula 1 contendo o seguinte: “Massa é um babaca”. E outra dizendo: “Massa é um covarde.”

Estes se esquecem de que Massa e todos os brasileiros estão amordaçados e não têm como espernear. Massa acaba de renovar contrato com a Ferrari nas seguintes condições: terá de se conformar com a condição de “escada” de Alonso. Era pegar ou largar. Se esperneasse e gritasse, não renovaria contrato e aí ficaria sem equipe de ponta, como aconteceu com Rubinho, quando deixou a Ferrari. Portanto, era assinar nessas condições --- aceitando a “cláusula Barrichello”, como a chamou a mídia européia --- ou deixar de ser piloto de ponta na F-1.

Quando Alonso esperneou e gritou, nos seus tempos de McLaren e polêmica com Lewis Hamilton, foi “saído” da equipe e se deu mal. Até hoje, ainda não se recuperou. Como o espanhol escapou do limbo? Arrumou um monte de patrocinadores com muita grana, em seu país, e “comprou” a Ferrari e a condição de número um. Massa e Rubinho nunca tiveram esse poder e foram “obrigados” a engolir tudo, ainda que de forma atravessada.

A Ferrari é que não está sabendo jogar o jogo direito, atuar com sabedoria nessa farsa em que se transformou a F-1. As equipes têm como dar carro mais potente e melhor para o “piloto número um”. É exatamente isto que a Ferrari vem fazendo com Alonso. Só que está errando na dose. Massa é melhor que Alonso, o que obriga a Ferrari a dar ao brasileiro carro ainda mais inferior do que o que tem dado. Como a equipe não sabe dosar direito, Massa, quando não consegue melhor tempo que Alonso nas tomadas para a largada, anda mais rápido nas corridas.

E aí a equipe é obrigada a dar vexames históricos como neste domingo, em que teve de pedir a Massa, pelo rádio, para que desse passagem ao espanhol, utilizando-se ainda por cima de códigos que lembraram os usados na ditadura de Franco dos tempos de Hitler. Risível.

Há mais de dois anos, venho dizendo que a carreira de piloto que pode conquistar título na Fórmula 1 já acabou para Massa e também para todos os brasileiros que estão na categoria. E já acabou por esses motivos que acabo de enumerar. A atual farsa da Fórmula 1 deixou os brasileiros que lá estão, ou que sonham com ela, fora do páreo.

A única força que poderia mudar um pouco isso, a mídia esportiva especializada, não tem mais como fazê-lo, pois virou “sócia” na farsa. Se vier a denunciar essa encenação em que se transformou a Fórmula 1, a mídia especializada estará denunciando a si mesma. Você já viu isto acontecer alguma vez no Brasil?








Na imprensa internacional:

Jornais e revistas da Europa criticaram as ordens de equipe dadas pela Ferrari no GP da Alemanha, que beneficiaram Fernando Alonso

A mídia internacional não poupou o episódio do jogo de equipe da Ferrari envolvendo Felipe Massa, que recebeu ordens para deixar Fernando Alonso ultrapassá-lo e conquistar a vitória em Hockenheim. O regulamento da F1, que proíbe as ordens, também foi alvo das críticas de vários jornais. Na coletiva de imprensa, logo após a etapa de ontem, repórteres questionaram Alonso sobre os riscos de vencer um campeonato de forma desonesta, lembrando, inclusive, da vitória do espanhol em Cingapura, em 2008, orquestrada por Flavio Briatore. "Essa é sua opinião", respondeu o bicampeão. O comportamento do piloto gerou críticas. 

A imprensa inglesa foi bastante dura com Alonso e com a Ferrari. O diário "The Sunday Express" classificou como "suja" a atitude da equipe italiana e acrescentou que a postura foi uma espécie de "engana ladrão", em referência ao modo como a mensagem para a troca de posição foi realizada. O "Daily Telegraph" afirmou que, em teoria, o Conselho Mundial da FIA, que vai julgar os procedimentos do time de Maranello na Alemanha, poderia, inclusive, desclassificar a mais famosa escuderia do grid, na reunião em agosto. 

Getty Images


O "The Independent" declarou ainda que "ninguém se convenceu" com o argumento dado pelo asturiano para o episódio. E o francês "Liberation" foi mais longe e afirmou: "A Ferrari não é uma equipe como qualquer outra. Quando não está envolvida em uma intriga política, dá um tiro no próprio pé." 

O espanhol "As" preferiu atacar Stefano Domenicali, atual comandante da equipe italiana. "Alonso mereceu vencer o GP da Alemanha, mas desta forma. Domenicali confirmou sua incapacidade ao dar ordens que são proibidas na F1."















Do Barrichello:

"Queria ver esse momento para ver o que aconteceu, mas se isso aconteceu mesmo [ordem para ultrapassar], é tudo aquilo que eu já conheço"
"Isso é muito mau para a F-1"





























Do Piquezinho:
- E agora que aconteceu com o Massa talvez os grandes críticos vejam que falar é fácil, sempre fácil... Mas o buraco é mais embaixo do que se pensa. 

- Eu não tenho muita coisa a dizer. Mas espero, mesmo, que todo mundo veja com isso que a F1 não e um mundo colorido. A coisa lá é pesada.
- Tudo aquilo que aconteceu foi um roubo, mas na corrida não aconteceu nada. O resultado continua o mesmo. Isso não está certo. O roubo mudou um campeonato.


Do Niki Lauda:


"Esse Fernando Alonso não tem nenhum caráter"
"Nunca ouvi na minha vida alguém falar tanta besteira"



ainda em construção...