quinta-feira, outubro 12, 2006

Carta ao (ex-comungado) Frei Beto

Edmundo Fontela Emediato Grieco

Com todo respeito, Sr Frei Beto,


Fico impressionantemente chocado ao ver pessoas inteligentes como essas que me repassam este texto muitíssimo bem escrito se deixarem levar por essa simplificação (desculpem a palavra forte ) ridícula dos fatos da nossa história recente. Fatos elencados e reais, e segundo minha própria posição politica de tendência de esquerda, e minha educação que é baseada no respeito à humanidade e à cidadania de todas as pessoas e povos do mundo, a legalidade e a moralidade ( não a falsa moralidade estilo rede globo );
é bem verdade que nos ÚLTIMOS 12 ANOS nosso país foi governado por pessoas sem um projeto de nação, sem ética, sem moral, sem compromisso com a verdade, coom as necessidades e direitos do cidadão brasileiro.

Daí, não entendo como qualquer comparação entre períodos deste prazo de 12 anos me podem fazer escolher entre um ou outro grupo, tendo em vista que ambos demonstraram apenas possuir projetos de poder em que defendiam exclusivamente a possibilidade de manterem-se exercendo o poder. Concordo Que Alckimim, sendo um representante do PSDB, apesar de não ter feito parte do governo federal nos anos em que o PSDB foi o partido mandatário da nação, merece nossa desconfiança. Porém, de Lula eu não tenho desconfiança, eu tenho certezas, conivente com a corrupção, coordenador de um sistema de manutenção de poder baixo (desculpem-me novamente ) e sem-vergonha, que é usado no Brasil desde sempre e em todos os níveis pela direita e pela esquerda, pois não há diferença entre os métodos dos famosos coronéis, e dos nossos sindicalistas e do nosso presidente também, infelizmente pra nós.

Eu me pergunto, cadê aqueles milhões de empregos que seiam gerados, cadê aquela redução de juros prometida 4 anos atrás, Cadê o ensinar a pescar em vez de dar o peixe (é isso que significa bolsa familia, ou bolsa família significa COMPRAR os votos das pessoas que tem menos condição de perceber as coisas que acontecem nas altas esferas politicas do país).

Não Frei Beto, eu não vou com você, se você com os fatos que você não deve ter precisado estudar muito para elencar em seu texto, tivesse antes do primeiro turno me convidado para uma cruzada em busca de procurarmos eleger uma outra tendência, e pedido apoio a qualquer um dos candidatos que não passaram ao segundo turno, você talve me tivesse convencido. Mas agora nesse seu caminho eu não vou. Venha você num dos caminhos que eu posso seguir: vamos votar nulo; vamos fazer a revolução; vamos alugar o Brasil; vamos explodir este país, vamos nos matar de desgosto; vamos fazer qualquer coisa, mas não me peça pra eu esquecer por que eu lutei anos para colocar o PT e o Lula no poder, nem pra que eu esqueça que ao chegar ao poder ele traiu a confiaça que eu depositei nele estes anos todos, porque isso eu não farei.

Vou te confidenciar uma coisa, eu me arrependi do meu voto de 2002, se tivéssemos elegido o Serra, pelo menos ainda teríamos no congresso um contraditório de oposição que era sólida e funcionava, pelo menos na oposição o PT funcionava, e hoje ganhe quem ganhar, aquele projeto neoliberal da manutenção do status quo no Brasil, será levado a diante por quem ganhar e não haverá oposição quanto a isso porque somados os partidos que defendem este pensamento PT, PSDB, PFL e PMDB (sim eles estão todos juntos) formam uma maioria esmagadora no congresso.


Eu não sei se votarei no Alckimim frei Beto, mas eu sei que eu não votarei no Lula, isso eu sei.


EDmundo Fontela Emediato Grieco é apenas um cidadão que não vai se deixar levar por uma conversa fiada de ele não sabia, ou foi uma ovelha negra da família que fez essas bobagens todas.


CARTA ABERTA AOS ELEITORES CRISTÃOS

Frei Betto

A 29 de outubro escolheremos quem governará o Brasil nos próximos 4 anos: Lula ou Alckmin. Os dois são cristãos. Os dois nunca deram mostras de tendência fundamentalista, a de querer submeter a política à autoridade de uma Igreja ou religião.

A política é laica, ou seja, neutra em matéria de religião. Ela visa ao conjunto da população, sem levar em conta as convicções religiosas do cidadão ou cidadã. A todos o governo tem a obrigação de servir, assegurando-lhes direitos, proteção e o mínimo de bens para que possam viver com dignidade.

Se nenhuma religião tem o direito de tutelar a política, isso não significa que a política deva se confinar no pragmatismo do jogo de poder. A política se apóia em valores éticos. E nós, cristãos, temos como fonte de valores a Palavra de Jesus. É à luz do Evangelho que avaliamos todas as esferas da atividade humana, inclusive a política ­ que é a mais importante delas, pois influi em todas as outras.

Para Jesus, o dom maior de Deus é a vida. Está mais próxima do Evangelho a política que favorece condições dignas de vida à maioria da população. É neste ponto que as políticas do PSDB e do PT ganham contornos diferentes. Os dois partidos tiveram desvios éticos? Sem dúvida. Como ironiza Jesus, atire a primeira pedra quem não tem pecadoŠ Errar é humano. Persistir no erro é abominável. Se um membro da família erra, não se pode condenar por isso toda a família.

O grave é quando a família toda abraça o caminho do erro.Este foi o caso do PSDB, partido de Alckmin, nos 8 anos em que FHC (Fernando Henrique Cardoso) governou o Brasil (1994-2002). Empresas públicas foram privatizadas. Grandes empresas brasileiras ­ Vale do Rio Doce, Embratel, Telebrás, Usiminas etc - patrimônios do povo brasileiro, cujos lucros engordavam os cofres do Estado, foram vendidas a preço de banana, e os lucros passaram a ser embolsados por corporações privadas, muitas delas estrangeiras.

Lula não privatizou o patrimônio público. Eleger Alckmin pode ser o primeiro passo para a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e dos Correios.

No governo FHC, as políticas sociais eram tímidas e assistencialistas. O Comunidade Solidária era uma iniciativa nanica comparada à grandiosidade do Bolsa Família, que hoje distribui renda para mais de 40 milhões de pessoas. Graças a isso, de cada 100 brasileiros que viviam na miséria, nos últimos 4 anos 19 passaram à classe média.

No governo Lula houve, sim, desvios éticos: o caso Waldomiro Diniz; o mensalão e os sanguessugas; a quebra do sigilo bancário do caseiro de Brasília; o dossiê contra Serra. Não há nenhuma prova de que o presidente soubesse antecipadamente dessas operações inescrupulosas. E ao virem a público, ele tratou de demitir os envolvidos.

No governo FHC, dinheiro público foi usado para tentar socorrer bancos privados: o Proer. O Banco Econômico recebeu R$ 9,6 bilhões. Instalou-se uma CPI que, controlada pelo Planalto, justificou a maracutaia e nunca investigou a Pasta Rosa que continha os nomes de 25 deputados federais subornados pelo Econômico.

Houve ainda os casos dos precatórios; da compra de votos para aprovar a emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC; do socorro aos bancos Marka e FonteCidam no valor de R$ 1,6 bilhão (os tucanos impediram a instalação da CPI para investigar o caso); as falcatruas na Sudam etc. Nada foi apurado, porque o Procurador-Geral da República, Geraldo Brindeiro, conhecido como engavetador-geral, engavetou, até maio de 2001, 242 processos contra o governo e arquivou outros 217, livrando os suspeitos de qualquer investigação: 194 deputados federais, 33 senadores, 11 ministros e ex-ministros, e o próprio presidente da República.

O governo FHC tratou os movimentos populares como caso de polícia, e não de política. Remeteu o Exército para reprimir o MST e os petroleiros em greve. Lula jamais criminalizou movimentos sociais e, sob o seu governo, a Polícia Federal levou à prisão gente graúda, dos donos de uma grande cervejaria a juízes, e inclusive petistas envolvidos no caso do dossiê anti-Serra.

O governo Lula reforçou a soberania do Brasil. Repudiou a Alca proposta pelo governo Bush; condenou a invasão do Iraque; visitou a cada ano países da África; abriu as portas de nossas universidades a negros e indígenas; estendeu energia elétrica aos mais distantes rincões; manteve a inflação sob controle; impediu a alta do dólar; reduziu os preços dos gêneros de primeira necessidade; ampliou o poder aquisitivo dos mais pobres, através do aumento do salário mínimo.

Lula ainda nos deve muito do que prometeu ao longo de suas campanhas presidenciais, como a reforma agrária. Porém, o Brasil e a América Latina serão melhores com ele do que sem ele. Se você está convencido disso, trate de convencer também outros eleitores.

Vamos votar na vida ­ e vida para todos (João 10,10). Vamos reeleger Lula presidente!

Frei Betto é frade dominicano e escritor, autor de 53 livros, e assessor de movimentos sociais