quarta-feira, abril 08, 2009

PERFECT NIGHT IN SP

Postado originalmente na Quinta-feira, 2 de Abril de 2009 as 11:10 no blog do Moisés, o Abrigo Madrugada.


Um dia o desejo de ter uma Banda entrou em meu coração. O maior responsável por isso foi o Alex (Lekso), que me fez acreditar na possibilidade de montarmos não apenas uma Banda de Rock, mas sim a Banda, aquela que seria a expressão maior do nosso desejo, da nossa vontade de quebrar barreiras e fazer as coisas da forma mais visceral que pudéssemos. Conversando com o Lekso, concluímos que a Banda teria por fundamento o amor à arte, num elo indestrutível que viria por abaixo muitas das bobagens que víamos. Ficou convencionado que eu aprenderia bateria, ele seria o vocalista, Rodrigo o guitarrista e Humberto levaria o baixo. Assim foi concebida a Banda, que teve dois nomes, para ao final, ficar sem nenhum... Primeiro a chamamos de “A Porra do Platão”, e depois de uma noite no quintal da minha casa, em que li o capítulo VII / O Delírio, do Memórias Póstumas de Brás Cubas, ela levou o nome de “Herbívoros do Delírio”. Após receber tão inusitados nomes, a Banda foi deixada de lado, tornando-se algo bastante pessoal entre mim o Lekso, uma espécie de sombra cuja morte se deu no show do Radiohead.Sempre estive disposto a esclarecer o significado desse desejo. Se é verdade que houve interrupções, especialmente por causa de uma pessoa com a qual convivi, é mais verdade ainda que dentro de mim a questão permanecia. Sendo bem aberto, a Banda, para mim, seria a fudeção total, algo que hoje posso fazer quando escrevo, quando canto ou toco violão. É que naquele tempo, 2004/2005, sentia a voz da arte a me convidar para dar o passo para o outro lado, no entanto havia muita insegurança e medo (daqueles que paralisam). A história do show da Sandy e Junior, no qual fomos afastados das “perninhas bacanas” da Sandy pela corda que separa os vips dos não vips, demonstra um pouco do que pretendíamos com nossa Banda. Jamais haveria área vip! Jamais seríamos babacas! Jamais deixaríamos que o sucesso tomasse conta! Teríamos, isso sim, a entrega completa de nossas almas, seria arte selvagem, uma verdadeira guerra contra o comodismo, contra a beleza enlatada, contra os undergrounds tolos. Seria algo único, sensacional, original, uma explosão, um tapa na cara... Seria mais ou menos como o Radiohead. Aí está. “Seria mais ou menos como o Radiohead”. Antes de viajar à São Paulo, ainda aqui em Montes Claros, numa visita relâmpago do Lekso, sentamos para conversar. Dentre os diversos assuntos, um foi sobre a viagem à São Paulo. Chegamos à conclusão de que o melhor lance do show seria a viagem, a companhia, as conversas. Então, quando coloquei o carro na estrada, estava convicto de que o Radiohead seria um apêndice de luxo às descobertas do caminho. Nem passava por minha cabeça aquilo que aconteceu no dia 22/03/2009. Radiohead, além de justificar o caminho, contribuiu para a solução do mistério. Naquela noite descobri que não preciso montar banda nenhuma.Jonny Grenwood entrou no palco encapuzado, estiloso ao extremo. Thom Yorke, ao chegar se remexendo todo, já deu um indício do que seria a noite. Devido a um toque do Mendel, prestei bastante anteção ao baterista – sensacional; se eu estivesse ali, não faria melhor. O baixista, praticamente o tempo inteiro ao lado da bateria, convocava o público à guerra, entre gestos de palmas e mímica. O outro guitarrista, o Eddie, dava um toque de sobriedade ao aparente caos que poderia emergir de uma hora para outra. Entretanto, caos nenhum vinha, apenas Thom remexendo feito um bicho, cantando como um anjo, provocando o delírio de todos que estávamos ali. Pura magia da Banda que poderia ser minha. As vísceras, os cacos de meu coração estavam no meio de trinta mil pessoas espremidas, espantadas com tanta riqueza. O show acontecia dentro do meu espírito; por mais de uma vez, saí de meu corpo, caminhei sobre as centenas de cabeças que me separavam do palco, e estive ali, abraçado ao Thom, ao lado do Jonny, rasgando a bateria, e morrendo mil vezes para nascer outras mil, como num ritual, como num culto. Talvez a alguém pareça herético de minha parte dizer que senti a presença de Deus ali naquele lugar. A quem assim pensar, ofereço minha compreensão, pois somente eu sei o que vi, o que senti. Eu vi meu sonho realizado por aqueles rapazes! Ali havia uma Banda de verdade! Muito além de qualquer outra, inatingível, absoluta. Uma nave espacial que pousou na Chácara Jóquei. Quando Karma Police foi executada, cantei arrepiado o “I lost Myself”. Feito um mosaico de fotos, passou em minha cabeça todos os momentos em que estive perdido, à procura dessa magia que, não sendo só minha, também é do Radiohead, do Ed, do Black. Creep, ao final, veio coroar
a noite perfeita que tivemos. Perfect Night in SP – este é o nome do primeiro disco da minha banda. Radiohead redimiu todos os meus fracassos musicais, trouxe à luz um adolescente remasterizado em pulos e gritos. Percebi que o mais importante de todo caminho, de toda viagem, de todo risco, é o encontro consigo mesmo. Não foi um apêndice, foi o ápice.Acho que o Lekso não vai entender; é possível que ninguém o faça. Contudo, isso não é importante. Algo fundamental ocorreu: eu entendi, e com isso foi resolvido um dos impasses da minha vida. Já posso investir em minha carreira musical solitária, com meu violão e minha voz desafinada. O verdadeiro nome da Banda sempre foi Radiohead. Os outros solitários, como Cohen, Dylan, Neil, são apenas meus amigos e parceiros. Nesse caminho que não tem fim, sigo andando debaixo do suave sol, em busca de nada além do que já está dentro de mim. Agradeço muito a Deus por me proteger da arrogância, por ter me dado o Radiohead e os grandes amigos que tenho. Acho que serei feliz algum dia. Tenho tudo que preciso. Sou finalmente quem eu gostaria de ser. Era isso que eu tinha a dizer.


3 comentários:

Moisés disse...

como diz uma pessoa que não gosto mais: a verdade se impõe!

Críssia Paiva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Críssia Paiva disse...

Como é bom quando encontramos as respostas que, por vezes, já havíamos desistidos, ou até mesmo esquecidos de buscá-las.Fico feliz por vc! É sempre belo ver um novo despertar de nós mesmos!