sábado, fevereiro 05, 2011

Uma Verdade a respeito das escolhas


por  Anarcoplayba  no http://anarcoblog.wordpress.com/ Post em resposta a Comment nunca é algo legal… Mas vamos lá.

“Seria interessante nos perguntarmos sobre a verdadeira vontade da mulher que não tem opção a não ser limpar banheiro ou se prostituir. Mas é só algo que me ocorreu agora…”
Bom, tem tanta coisa escondida aí no meio que o que ia virar um comment respondendo merece virar post:
1) Opções.
Sempre temos opções. O suicídio é uma opção. No caso em tela, por exemplo, ela tem a opção de se prostituir ou de lavar banheiros.
Nesse sentido, vale a questão: que escolhas fizemos até não termos mais escolhas?
2) Preconceito.
Sim, admito que até certo ponto estou colocando palavras na boca do leitor, mas por que prostituição ou lavar banheiros seriam uma coisa ruim?
Oras, do ponto de vista do universo, do planeta ou das coisas realmente relevantes, eu gostaria de saber: qual o problema em lavar banheiros ou se prostituir? Por que nós consideramos isso algo negativo?
“Ah, então vá ver se quem está lavando banheiros quer continuar lavando banheiros, ou se prostitutas querem continuar se prostituindo.”
Bom ponto. Ótimo ponto, na verdade.
Uma amiga da minha mãe emigrou para os Estados Unidos. Ela era manicure aqui e foi ser faxineira lá. Em coisa de seis anos que ela ficou lá ela conseguiu pagar a faculdade dos filhos, comprar um carrinho pra ela lá, comprar um apartamento na praia pra ela aqui, uma casa pra família dela e fazer um pé de meia. Ela disse claramente que não volta pro Brasil a não ser que seja para se aposentar.
E é isso que ela faz lá: lava banheiros, cozinhas, casas, etc. Segundo ela, os americanos consideram passar aspirador na casa a faxina semanal, e como ela faz faxina estilo brasileiro lá, as pessoas adoram, e pagam MUITO bem.
Por outro lado, um amigo meu comentou que, após ter fechado um contrato, ele decidiu se dar de presente uma noite com uma puta de luxo. Foi no GP guia, pegou depoimentos, entrou no MClass, escolheu a garota, e foi lá.
Segundo esse amigo ele tem o costume de conversar com as meninas, normalmente tentando impressioná-las com viagem, trabalho, etc.
Bom, pra encurtar, a menina cobrava R$ 400,00 por programa, gostava do que fazia, conheceu a Europa, Ásia, Oriente médio e EUA (passando alguns meses nos lugares a trabalho porque, segundo ela, ela viajava pra voltar com não menos de R$ 200.000,00), entendia mais de bolsa de valores que o meu amigo, havia comprado uma fazenda na Bahia que ela arrendava, e tinha por objetivo chegar aos 30 anos com um patrimônio de R$ 2.000.000,00 porque “depois dos 30, ela vai acabar atraindo menos clientes”.
Citei esses dois casos para levantar uma questão: o problema é o trabalho que desenvolvemos ou o valor atribuído a tal trabalho pelos outros? O que fazemos ou quanto nos pagam? Você lavaria banheiros por um salário mensal de R$ 20.000,00? Você preferiria ser atendente do McDonalds ganhando US$ 5.000,00 ou Médico ganhando R$ 2.000,00?
O que é mais importante? Ser médico? Advogado? Engenheiro? Faxineira? Jogador de Futebol? Prostituta? Senador? Juiz? Psicólogo? Professor?
As pessoas vivem em sociedade e a grande questão do viver em sociedade é sacrificar uma parte de si para os outros para que os outros sacrifiquem uma parte de si para você. Eu advogo para não precisar estudar medicina. Para não precisar projetar meu carro. Para não precisar programar meu computador.
Viver em sociedade envolve esse trabalho de intercâmbio de especializações, e não existe atividade mais ou menos importantes: todas são úteis e deveriam, em um mundo perfeito, permitir a todos uma vida digna.
3) A Verdadeira Vontade.
Possivelmente, ao citar os dois casos acima, o interlocutor exclamará: “Essas são as exceções que confirmam as regras.”
Possivelmente sim. Possivelmente 99,9(…)9% das pessoas que trabalham em tais carreiras trabalham, literalmente, por “falta de opção”.
O que eu questiono em seguida é: E quantas pessoas vocês conhecem que realmente fazem aquilo que gostariam de fazer?
Porque sim, eu sei que centenas de prostitutas alegam que prefeririam trabalhar com outra coisa. E centenas de advogados. Centenas de médicos. Centenas de administradores. Centenas de funcionários públicos. Etc. Etc. Et coetera.
Encontrar alguém que sabe a própria razão de ser na Terra não é fácil de encontrar. Quantas vezes as pessoas não escolhem uma carreira porque “são bons de matemática, e engenharia é a melhor opção”? Ou tem que agradar a família? Ou sequer sabem as possibilidades que existem? Ou vão na carreira da moda?
Muitas.
E em meio a diversos problemas, tais como ambição, satisfação do ego, prestígio, preconceito, licitude, etc, etc, etc, as pessoas vão se moldando. Vivendo não o ideal, mas o possível.
Será que se nós tivéssemos uma outra relação com o sexo a prostituição não seria uma atividade como outra qualquer e, então, prostitutas desejariam tanto mudar de carreira como, por exemplo, advogados?
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Perfeita a discussão colocada pelo amigo, há pouquissímo reparo que se pudesse fazer. Quero colocar apenas mais alguma ênfase num ponto que me procupa em nosso tempo á há alguns anos. Especialização, é uma coisa importante e faz nossa sociedade humana evoluir e funcionar em tamanhos e proporções inimagináveis em outras épocas. Mas será que não há um exagero... digo, será que não abandonamos por demais os generalismos, e nos fechamos em guetos de iguais e assim até perdermos boa parte da nossa capacidade de nos comunicar com especialistas outros... ficamos dependentes em excessos de especialistas de algo que não conhecemos, e temos que confiar cegamente nesses especialistas. Perdemos até nossas capacidades de mudar nosso caminho quiça... E mesmo muito pior do que isso... nessa especilização desmedida muitos, a maioria talvez, conheçam a fundo determinado área do saber, mas abandonem totalmente outros conhecimentos necessários a excelência do desempenho das próprias funções que assumem, falo de advogados e juízes que sabem tudo de leis, mas pouco de justiça, de médicos que conhecem doenças e tratamentos, mas ignoram humanidade, politicas que entendem de campanhas e de negociações, mas desconhecem desenvolvimento e o bem comum, prostitutas que entendem o sexo, o dinheiro, mas simplesmente não sabem do que trata sentimentos ou relacionamentos.
Enfim, vejo uma sociedade em que pessoas que tentam ter uma visão mais ampla, são vistos como desfocadas, despreparadas, desatualizadas ou mal formadas. São descartadas de atividades que exigem os grandes especialistas, e não são usadas em atividades em que os generalismos seriam bem-vindos, e nem como pontes de comunicação entre os especialistas de diversas áreas... que eu enxergo como tão necessárias e tão inexistentes....

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