domingo, dezembro 14, 2008

OK COMPUTER

Em 1997 então o Radiohead, alcança a maturidade, não que a Banda tenha envelhecido, mas sim se desenvolvido, com OK, Computer, o radiohead deixava para trás a puberdade e se tornando um jovem adulto...

Neste disco, o Radiohead, promove a reconciliação do Rock com os efeitos eletrônicos, com tal maestria, que integrantes de tribos diversas, e que ora se separavam cruelmente por barreiras de preconceito gigantescas, tiveram que parar, ouvir, refletir... e se render...

As harmonias, os andamentos, e os ritmos propostos neste disco, se não eram inteiramente novas (e eu acho que eram), eram pelo menos diferente de tudo o que estava se produzindo então. O disco foi um grito pela renovação da forma de se fazer e explorar a música na cena pop.

Os temas tratados nas letras da música, e a forma como foram tratados nela, mostram uma banda que definitivamente, vinha falar o que pensava, o que acreditava e o que queria, não deixando nenhum espaço para que alguém pensasse que eles estivessem falando o que o público, ou o mercado ou a indústria quisessem que eles falassem. O disco é forte, mas é suave. É impactante, mas agradável. É barulhento, mas harmônico. É carregado de influências, mas é novo. É diferente, mas Bonito. É profundo, mais dinâmico. É acima de tudo, autentico, verdadeiro.

Ok, computer mudou o mundo da música, mudou a indústria de forma tão avassaladora que só IPOD e o MP3, tiveram efeitos que podem ser comparados a esse rebuliço, que se dá no mercado fonográfico, pós Ok, computer.

O disco nasceu já histórico, apesar da vanguarda (ou talvez por causa dela).

Não há erros. Não há exageros. Não há omissões. É OK, Completo.

(com sua licença, e seu perdão amigo Rednei, me empolguei enquanto escrevia e não aguentei, usei essa expressão que é sua... mas ficou bacana, não ficou?)



quarta-feira, dezembro 10, 2008

The Bends

Em 1995 é lançado o The Bends. O Segundo Disco do Radiohead, dois anos depois do primeiro. Eu não fiquei, sabendo deste lançamento, assim como a grande maioria do Brasil... internet era coisa para poucos, e compartilhamento de música nem pensar, o máximo que a gente fazia era pegar uma caixa de fitas cassete BASF ou TDK, levar para a casa de amigos e fazer cópias dos CDs e LPs bacanas que eles tinham... Mas Radiohead, só no exterior... por aqui nem notinha no jornal ou revista especializada.

A gente talvez nem nunca tivesse ouvido falar desse álbum, não fosse a fantástica peça publicitária do Carlinhos, vocês se lembram?


Carlinhos vai à escola todos os dias. O amigo dele, não. Carlinhos faz natação.
O amigo dele, não. Carlinhos tem aulas de piano. O amigo dele, não. Ei este é o Carlinhos. Este é o amigo dele ele é um menino de rua. Milhares de crianças no Brasil precisam de sua ajuda. Os portadores da síndrome de Down só precisam do seu respeito. DOWN – A pior síndrome é a do preconceito...
Lembrou?

Não... então se lembre.

Aí você já sabe o Radiohead voltou com força para as rádios e aconteceu de pela primeira vez chegarem as lojas no Brasil...

Eu lembro que eu nem sabia que essa música da propaganda era do Radiohead, eu tinha visto de relance a propaganda uma vez e tinha me interessado fiquei na frente da Tv até ver de novo e fiquei todo arrepiado, o enredo muito bom a fotografia linda e aquela música que arrebentava... o andamento mudando e te preparando para cada informação nova... putaquepariu...

Um dia andando pela Avenida Paraná vejo na porta de uma loja Sem Nome, vejo um cartaz, "aqui tem o CD da música da propaganda do Carlinhos"... Botei a mão no bolso... 20 reais, deve dar.. entrei e segui o cartaz... que surpresa a banda era o Radiohead, depois de uns cinco anos procurando eu teria enfim o disco com aquela música que eu tinha ouvido num shopping uns cinco anos antes, procurei a listagem das músicas, mas ela não estava lá... (demorei mais uns anos para conseguir achar o Pablo Honey). Levei o disco mesmo assim e fui para casa ouvi-lo... fiquei ouvindo até o fim de semana acabar... estava de novo apaixonado pelo Radiohead, e agora eu conhecia um pouco mais e tinha até uma disco.

Fake plastic Trees é sensacional e principalmente para nós no Brasil que temos a ligação direta com o video da APAE, mas o disco tem mais, tem The Bends, tem Planet Telex, High and Dry, (nice dream), Just, My Iron Lung, Bones... Enfim

Meu Primeiro disco do Radiohead parecia ser um disco de um Banda já madura e evoluída, eu não tinha o conhecimento ainda do Pablo Honey, mas já enxergava grande evolução... eu estava errado é bem verdade... não sobre a evolução e o amadurecimento, ocorrido, mas sobre o diagnóstico de madura sobre a Banda... eles estavam apenas dando um primeiro passo rumo ao que se tornariam depois.. The Bends é um disco fantástico, maravilhoso e histórico... Qualidade irrepreensível e pela primeira vez um produto com personalidade da Banda Radiohead entranhada em si. Um Álbum que obrigatoriamente figura entre os mais importantes, marcantes e influentes na história do Rock e da música Pop mundial, se ele fica ofuscado dentro da própria discografia do Radiohead, é não por ser menor o menos importante, mas por ser difícil mensurar e comparar o Radiohead com o próprio Radiohead em suas produções sequentes...

Com o The Bends o Radiohead disse ao mundo, teve os Beatles, e eles foram e são importantes e geniais, teve os Rolling Stones eles foram e são importantes e geniais, teve também o Led Zeppelin, o Pink Floyd e por último o Nirvanna, todos eles fizeram coisas que não eram feitas antes e todo mudo copiou o que pode e o que não pode... Doravante esta é que será a Matriz a ser seguida.


(agradecimento eterno os publicitários da propaganda da Apae, por terem propiciado a chegada do Radiohead as prateleiras das lojas no Brasil e permitido que eu enfim começasse a minha coleção que se mantêm completa, até hoje)



Pablo Honey

O PRIMEIRO DISCO DO RADIOHEAD É O PABLO HONEY, DE 1993 (CARALHO, JÁ TEM 15 ANOS).
É UM BOM DISCO DE ROCK INGLÊS CONTEMPORÂNEO, MAS DE RADIOHEAD, SÓ O NOME FANTÁTICO (FANTASTICO MESMO, ALGUÉM QUE APAREÇA COM UMA BANDA CHADA RADIOCABEÇA, DEVE NO MÍNIMO SER OLAHDA COM ATENÇÃO). ERA AINDA UMA BANDA INCIPIENTE, A INFLUÊNCIA MAIS PRONUNCIADA DA BANDA, QUE PARA MIM É O JOY DIVISION, JÁ ESTAVA LÁ, APESAR DE QUE NUMA OLHADA MAIS SUPERFICIAL, NA ÉPOCA TALVEZ (TALVEZ É FIGURA DE LINGUAGEM) A PRIMEIRA IMAGEM COMPARATIVA SERIA DO DURAN, DURAN; OU QUANDO MUITOALGUÉM PUDESSE VISLUMBRAR UM THE CURE... TANTO PELO SOM QUE NÃO ERA AINDA MADURO, QUANTO PELA ARTE MARGINAL, APARENCIA E FORMA DE DIVULGAÇÃO (O QUE CLARAMENTE PODEMOS ATRIBUIR A PRODUTORES QUE NÃO CONHECIAM O PRODUTO QUE ELES TINHAM).

DESTE DISCO, O QUE DE PRINCIPAL FICOU FOI A FAIXA 2 "CREEP" . MÚSICA ESTA QUE JÁ TINHA A CARA DO QUE O RADIOHEAD SE TORNARIA, E QUE TINHA AO MESMO TEMPO ESSA COISA CONTEMPORÂNEA, QUASE DE ANTECIPAÇÃO QUE O RADIOHEAD TEM, MAS QUE AO MESMO TEMPO TINHA UMA AURA DE ANOS 80, PODERIA ATÉ MESMO SERVIR DE TRILHA SONORA PERFEITA PARA ALGUNS FILMES DOS ANOS 80 COMO "NAMORADA DE ALUGUEL", VOCÊS SE LEMBRAM?

EALIER 90S, EU CORTANDO CAMINHO, POR DENTRO O SHOPPING CIDADE, OUÇO UMA MUSICA AMBIENTE NO FUNDO... PARO LÁ NO MEIO (DO LADO DA VIDE BULA) E ESPERO MAIS DUAS MUSICAS ANTES DO RADIALISTA (ACHO QUE ERA DA ALVORADA), DAR O NOME DA MÚSICA E BANDA...

RADIOHEAD, CREEP....

PODEM DIZER QUE O MAIS ESQUISITO SOU EU QUE LEMBRO COM DETALHES DISSO,
POIS É, VOCÊS TEM RAZÃO....

FORA ELA NÃO SOBRAM HITS E NEM MÚSICAS MUITO DETERMINANTES NO REPERTÓRIO, OU NA TRAJETÓRIA DA BANDA....

MAS SÃO PARTE DA HISTÓRIA DELA...



Radiohead: duplicar e triplicar

(retirado de http://colunas.g1.com.br/zecacamargo - escrito e publicado por Zeca Camargo (só é pena o link para o artigo de 1997 não funcionar)

(Vem aí Vampire Weekend. Isso não tem nada a ver com o Radiohead, mas como essa vai ser uma das bandas de 2008, achei melhor falar logo dela – assim, quando você começar a ouvir esse nome por aí, por favor, lembre-se de mim (aliás, se quiser já ouvir alguma coisa agora, comece por “Mansard roof”, refresque com “Oxford comma”, e feche com “Apunk”, no MySpace).
Mas vamos lá: Radiohead!)


Antes de mais nada, é importante dizer que, diante de qualquer trabalho deles, nenhum fã da banda – ou mesmo que tem mesmo uma admiração reservada por ela – está livre da influência de “OK computer”. Quando esse CD apareceu, em 1997, o impacto foi tão grande que as reverberações podem ser ouvidas até hoje (parece que já chegaram em Saturno!). “OK computer” era (e é) tão genial, tão diferente, tão inesperado, tão honesto, um tapa na sua cara tão forte, que uma simples escutada contínua era capaz de deixar marcas permanentes em quem a ele emprestava seus ouvidos.
Eu, claro, não fiquei imune a isso – como pude checar novamente ao reler uma resenha sobre o disco, que fiz então. E durante todos esses anos, desde 1997, fui tomado por uma espécie de sebastianismo (Wikipédia – rápido!), aguardando o retorno messiânico “daquele” Radiohead. “Kid A”? Muito bom – nem que fosse pelos 4 segundos que abrem “Everything in its right place” (tudo, de fato, no seu devido lugar… que petulância começar o disco mais esperado do final do século 20 com aquelas notas glaciais!); ou simplesmente pela faixa mais injustamente esnobada por todos os DJs do mundo, “Idioteque”. “Amnesiac”? Mais um título sensacional, mais uma capa enigmática, mais um punhado de faixas desafiadoras – mas ainda longe de algo que pudesse encostar “OK computer”. “Hail to the chief” chega em 2003 e, como indicava a sua primeira faixa (“2 + 2 = 5”), suas partes não somavam muito bem: momentos belíssimos entrecortados por sonoridades confusas – um provável truque perverso do próprio Radiohead, como se a banda estivesse dizendo indiretamente aos fãs: “ainda não é isso, mas estamos tentado – e com afinco!”.
A cada um desses lançamentos, eu voltava para “OK computer”, só para ter a certeza de que ele continuava imbatível. Perguntava: seria possível mesmo superar aquele conjunto? A elegância de “Karma police” coexistindo com o desespero de “Let down”? A tempestade cerebral de “Paranoid android” anunciando a calmaria quase bucólica de “No surprises”? O conceitual-cabeça de “Exit music (for a film)” com o sensual-épico de “Airbag”? E a conclusão era sempre a mesma: “OK computer”, ainda na frente.
Entra, então, “In rainbows”. Oficialmente, ele chegou dia 10 de outubro do ano passado – um lançamento comentadíssimo, não apenas por ser exclusivamente virtual (o disco só estava disponível para ser “baixado” pelo site da banda), mas também pela proposta inovadora de deixar para os fãs a decisão de quanto eles deveriam pagar pelo prazer de ter o álbum em seu arquivo pessoal. Muito se falou dessa nova abordagem na relação artista e público (com o item “gravadora” perversamente fora da equação). Foram matérias e matérias com previsões abstratas sobre o futuro da indústria fonográfica e especulações vazias sobre quantos (e quanto) fãs pagaram de fato por “In rainbows” – estimativas bem “chutadas” colocam o “preço” médio do trabalho entre R$ 10 e R$ 16.
Este post, porém, não vai acrescentar nada a esse debate – desculpe. O que vem a seguir é um comentário à moda antiga… Como os próprios formatos para consumir música estão mudando, as maneiras de analisá-la também se renovam. Mas, se o Radiohead insiste num “velho” conceito chamado “álbum”, acho melhor acompanhá-los na intenção com uma crítica do disco. “Ah”, dirão os mais engraçadinhos, “por que você não fez isso em outubro?”.
Primeiro porque, como um bom quarentão, ainda tenho reservas quanto a “baixar” qualquer coisa da internet – mesmo que seja autorizada pelo autor (reparou as aspas no verbo “baixar”?). E, também como um bom quarentão, ainda gosto da minha música servida num CD – ou num vinil. Aliás, no caso de “In rainbows”, pude me empanturrar com os dois formatos: comprei, logo no dia primeiro de janeiro – quando já estava disponível nos Estados Unidos – a versão “metida” do álbum: o CD oficial, o CD de bônus (mais oito faixas inéditas, 26 minutos e 53 segundos fesquinhos!), um livreto com as letras, um “livrão” só com arte (fotos e grafismo, assinados por Stanley Donwood, colaborador de longa data da banda), e dois discos de vinil, com as dez faixas impressas em 45 rotações por minuto (pergunte ao seu tio o que significa isso).
Não posso, de fato, reclamar: ouvi “In rainbows” de tudo quanto foi jeito. Assim, aqui está o veredicto.
Não é um “OK Computer”. Mas também eu não tenho mais “só” 34 anos; nesses dez anos, já dei uma volta ao mundo e escrevi três livros; o cenário musical – brasileiro e internacional é outro; já passamos pela revolução do iPod; as Torres Gêmeas desabaram; o “BBB” chegou à oitava edição; o biocombustível não é mais uma alternativa, mas uma salvação; Britney Spears circulou uma dúzia de vezes o ciclo de ascensão e queda de uma celebridade; o mundo reconheceu a inventividade do cinema brasileiro; “mensalão” já veio e já foi como se nada tivesse acontecido; Los Hermanos apareceram, gravaram quatro discos e entraram em um hiato; e “esse” Radiohead já não é “aquele” Radiohead.
Esse pequeno panorama é, claro, uma mera alegoria apenas para lembrar que as coisas mudam, e que, sebastianismos à parte, não faz o menor sentido esperar por um novo “OK computer”. Deixei claro? Inclusive para mim mesmo? Acho que sim! Dito isso… “In rainbows” é sensacional – e se eu tiver de explicar esse adjetivo em apenas uma frase, vou pegar emprestado o verso de uma das faixas novas do próprio Radiohead (“Faust arp”): é exatamente “o que você sente agora”. Elaborando: da bizarra batida “disco” que abre o álbum (“15 step”) ao pseudo-reco-reco hipnótico que marca seu final (em “Videotape”), todo o conjunto de músicas é a tradução mais eficaz de tudo que você deveria sentir agora – e não apenas com seus ouvidos…
Um rápido faixa-por-faixa: do estranho convite à dança de “15 step” você é levado a um brilhante arremedo de u2 em “Bodysnatchers” – que na verdade é uma releitura de PIL pelo olhar sempre assustador de Thom Yorke; as coisas ficam mais calmas e chamam à reflexão em “Nude”, só para pegar um pouco mais de ritmo em “Weird fishes/Arpeggi” (achou o título estranho? Você não viu nada…), onde, dessa vez, o arremedo é de Coldplay – ou melhor, é o Radiohead mostrando como o Coldplay deveria ser desde o início; quem procura uma canção de amor, o mais próximo que eles têm a oferecer nesse disco é a música seguinte, “All I need”; aí surge “Faust arp” – e você finalmente se lembra por que se apaixonou (pela banda ou por uma pessoa qualquer) pela primeira vez (mais sobre essa faixa daqui a pouco); “Reckoner” é o momento mais distante do trabalho, mas quem se sente afastado logo é reconquistado com “House of cards” – uma bossa nova futurista, se é que eles alguma vez pensaram em gravar uma coisa assim (alerta “Bebel Gilberto” em potência máxima!); depois vem “Jigsaw falling into place”, cujo nome (mais ou menos, “Quebra-cabeças encaixando no lugar”) funciona como uma senha para entender o disco todo (musical e poeticamente); e o disco fecha com a aparentemente inofensiva “Videotape” – “aparentemente” porque você não dá nada na primeira vez que ouve, mas de perto, ela é a segunda melhor faixa de “In rainbows”, na minha humilde opinião.
E qual seria a primeira? Disparado, “Faust arp”. Passar aqui, num texto, a sensação de ouvir essa música é um exercício de frustração. Mas, como eu sou teimoso (e fiquei particularmente encantado com essa canção, que não parece fazer o menor sentido, mas que é simplesmente perfeita), vou tentar: numa melodia tão delicada e ao mesmo tempo coesa, que parece feita de fios de uma teia de aranha, as frases musicais se sucedem de maneira tão natural que nem parecem que foram compostas uma a uma – é como se a faixa tivesse nascido pronta, inteira, indivisível; a voz de Thom York reescreve palavras como “tingling” e reinventa expressões como “on again off again” – tudo dentro de uma de suas poesias mais inspiradas, com imagens intensas, que enchem os olhos pelos ouvidos e, sem nunca romper a fragilidade da canção, explodem como as tintas que ilustram o livreto do CD: um corpo morto do pescoço para cima, um elefante tropeçando na sala, alguém que cai como dominós fazendo belos desenhos no chão; e tudo isso duplicando e triplicando, duplicando e triplicando…
Esse comando – que é também um verso de “Faust arp” e que emprestei para o título deste post – é, para fãs como eu, uma leitura do desejo eterno de que sempre exista música boa no mundo. Talvez não tão boa quanto à de “OK computer”… mas bela o suficiente para nos inspirar por muitos e muitos anos. E quem melhor que o próprio Radiohead para desejar isso?


Se arrependimento matasse... ou: “Ok Computer” fez 10 anos

(retirado do http://artedamiseenscene.blogspot.com de Breno Yared
Manaus, Amazonas, Brazil - assinado por Rodrigo Castro )
(não é minha história e nem parecida, mas o arrebatmento é igual)


Quantas vezes em sua vida você teve uma grande oportunidade e a desperdiçou? Várias com certeza. Desde uma vaga de emprego. Passando por um encontro em que você chegou atrasado. Uma amizade que poderia ter sido feita. Outra que sempre deveria ter sido desfeita. E terminando com aquele disco que você ouviu e odiou de primeira.
Todos os dias, essas situações ocorrem e a tal frase, mais cedo ou mais tarde, será proferida pelos seus lábios com certo rancor ou até mesmo melancolia: “Ah se arrependimento matasse”.
Há mais de dez anos, proferi com orgulho essa frase. Após ler a minha Showbizz e gostar muito de um artigo feito pelo Zeca Camargo – você não está lendo errado, é o Zeca do Fantástico mesmo – sobre o novo disco do Radiohead – banda que me era mais conhecida pela excelente música “Creep” – Ok Computer.
O texto era tão bem feito que não pensei duas vezes: fui a uma loja que importava CDs – no tempo que o dólar tava um por um – e fiz minha encomenda. Dali a duas semanas aquela maravilha estaria em minhas mãos e faria parte de minha pequena, mas boa, coleção de CDs de rock.
Ouvindo mais um disco do Led Zeppelin, sou chamado pelo dono da loja para pegar o meu Ok Computer. Ansioso, separo o discman – lembra disso? – ponho CD pra rodar. Vou ouvindo as canções até chegar em casa. Dou o eject de um aparelho e coloco-o no meu aparelho de som.
Ouço uma, duas, três vezes. Leio duas vezes o artigo e chego ao veredicto: uma porcaria, o Zeca me enganou. Ligo para a loja, falo com o dono, pergunto se há possibilidade dele devolver metade do dinheiro se eu devolver o CD, ele concorda. Separo o disco e no caminho para a loja, arrisco a colocar a porcaria no discman, por total sorte, vou direto para “Paranoid Android”.
“Please Could You Stop The Noise. I Try to Get Some Rest” implora uma voz sofrida enquanto violões e uma sutil bateria fazem uma parede melódica de fundo. Outra frase da mesma canção me interrompe no caminho a loja: “Whats There? Whats There?”. Sentei na calçada e comecei a me perguntar: o que era aquilo?

Antes de chegar a uma conclusão real a voz sentencia: “Ambition Makes You Look Pretty Ugly. Kicking, Squealing gucci little piggy. ”. E as coisas começaram a abrir em minha cabeça. Aquilo era a resposta contra a mesmice que o roque havia se tornado após Seattle. Esse CD era a volta do que realmente prestava no estilo que sempre mais gostei: renovação e experimentalismo junto a excelentes letras e uma produção impecável.
Eu não sabia – mas muita gente que comprou “Revolver” e “Physical Graffiti” antes de todo mundo também não deveria saber - mas ali em meus ouvidos eram tocadas as melhores músicas daquele ano e olha que o Depeche Mode já havia voltado das trevas e feito o excelente “Ultra”. Mas Ok Computer ia além: viajava pelo espaço sonoro em “Subterranean Homesick Alien”, relembrava o Queen, com a já citada “Paranoid Android” e ainda fazia uma das canções mais tristes que ouvi em minha vida: “Exit Music (For A Film)”.
E olha que não chegamos nem a metade do disco. Levantei da sarjeta, sorri comigo mesmo e fui fazendo o caminho de volta para casa. De repente uma chuva caiu, como se me limpasse e imediatamente outro trecho de “Paranoid Android” em que Thom Yorke suplica por ela “Rain down, rain down. Come on rain down on me. From a great height. From a great height... height...” me veio a lembrança.
Sem nem mesmo dar o pause, fui me secando com uma toalha e lembrando de que um dia fui criança, daquelas que corre para o pátio quando a chuva cai e toma um banho daqueles enquanto ouvia a maravilhosa, melancólica e desafiante “Let Down”.
Stop. Eject. Tira o CD. Põe o CD no aparelho de som do quarto. Aperta o play. Pula para a faixa 6 e um mantra começa a ser emitido, “Karma Police”. A música é tranqüila, sua letra é pessoal e com certeza ali, naquela linda canção, no momento em que o som pára, é que tive discernimento do quanto aquele disco – sou velho e nesse tempo as pessoas nem sonhavam com o MP3 – seria importante para dezenas de outras bandas.
A fórmula “piano, voz amargurada, cantor com estilo excêntrico de cantar e subida de tom em momento chave da canção” seguida por Keane, Coldplay, Muse e muitas outras foi criada em “Karma Police”.
Você pode reclamar da informatização de “Fitter Happier”, da “pauleira” de “Electroneering”, da canção perfeita para um filme de David Lynch (“Climbing Up The Walls”), da segunda viagem espacial da banda em “Lucky” e da nostalgia de “The Tourist”. Mas todas essas faixas são necessárias para que o sentido de se ouvir um dos melhores discos de roque já feitos seja completo.
E olha que eu não vou nem falar de um clássico instantâneo que se chama “No Surprises”, talvez a mais linda canção já feita por uma banda nos últimos 30 anos e que tem tudo para entrar em uma daquelas compilações das “músicas mais marcantes de cada década”.
Escrevi todo esse texto para você: que não conhece esse material do Radiohead, que é apaixonado por Keane, Coldplay e Muse, que quer ouvir algo diferente, moderno e que possa inspirar você por alguns bons minutos da sua existência. E também porque não vi nenhum, se tiver favor indicar, artigo do ano passado que falasse de “Ok Computer” em pleno seus dez anos de lançamento.

Ouça sem alarmes e tenha muitas surpresas.

ED