quinta-feira, maio 27, 2010

Lost – The End


Por Fábio Yabu no blog dele



Imagine que você está numa ilha deserta. Não tem fome, mas comeria, nem sede, mas tomaria um suquinho. A brisa acaricia seu rosto e o barulho das ondas aquece seus ouvidos. Em sua mão, está uma garrafa de vinho, como a de Jacob. Você a gira, gira, gira, vira de cabeça pra baixo e, graças à uma rolha, o precioso líquido não sai.
Agora, imagine que o vinho é algo menos vil que o mal encarnado. Trata-se apenas dos lugares comuns, do marasmo criativo, dos pontos de virada, dos casamentos em final de novela, Syd Field. E a rolha é a ilha de Lost – que durante seis anos, impediu que esses males tocassem nossas vidas.
Aí vem um desgramadumafiga e me quebra a garrafa.
Quase tudo já foi dito sobre o final de Lost. Não vou ficar aqui contando quantas horas da minha vida gastei assistindo às seis temporadas (85), exigindo respostas que eu já sabia que nunca viriam, nem discutindo os méritos dos criadores. Vou me limitar a dar a minha opinião, que reflete as dicotomias da série.
Amei o final de Lost. Foi bonito e tocante. Encerrou de maneira digna a jornada de seus personagens, nos deu algum conforto e uma boa dose de reflexão. Em termos narrativos, foi perfeito, satisfez a todos que acreditam no velho papinho de que “é sobre os personagens”, satisfez a quem, como eu, já tinha desencanado dos mistérios, satisfez a dona-de-casa que há em cada um de nós.
Porém, como num flash-sideway, odiei o final de Lost. Com a garrafa quebrada, não teve rolha que segurasse a enxurrada de clichês que atingiu o mundo. Teve beijo, teve “eu te amo”, “eu também”, teve luta (na chuva!) do mocinho contra o bandido, teve reencontro com o pai, não teve casamento, mas teve igreja.
E teve o diabo do purgatório, a verdadeira natureza dos flash-sideways (se você é daqueles que acham que todos morreram no primeiro episódio, por favor, assista de novo). O problema pra mim não foi a saída criativa em si, mas o fato de que qualquer outra série poderia ter terminado com os personagens se dando conta de que estão mortos.
E Lost nunca foi uma série qualquer. Lost transformou palavras como “constante”, “números”, “escotilhas” e “candidatos” em histórias. Bastava um 23 ou um nome riscado aparecerem na tela, para que teorias incendiassem as redes sociais – fenômeno aliás, indissociável da série.
Durante seis anos, Lost ousou em temas como fé, ciência, religião, amor, viagens no tempo, vida após a morte. Palavras que parecem se acotovelar quando colocadas numa mesma frase, usadas para contar uma história. Que pode não ter tido nem pé nem cabeça, mas que nos fez pensar, chorar e, acima de tudo, nos divertir.
Por isso, encerro a jornada grato e satisfeito. Lost terminou sem um final à altura. Mas como disse o próprio Jacob (o maior perdido de todos, cá entre nós), qualquer coisa que acontece antes, é apenas progresso.


Um comentário:

Flaviano, O Flaivis disse...

Lost foi uma série que não caiu no meu gosto. E olha que eu sou chegado em séries. Mas tenho de aceitar o rebuliço causado pelo final, tão esperado para resolver tantos mistérios, que nem sei mais quantos são (assisti uma temporada e alguns episódios picados), ou eram.
Por isso gosto de House, M.D.. Série focada em um personagem complexo e não previsível. Além do ator, Hugh Laurie, ser excelente. Me chama mais atenção e me deixa ligado, coisa que Lost, apesar de todos os mistérios, não me cativou.