quarta-feira, agosto 26, 2009

A Despedida que não Houve (pelo menos por enquanto)

O escritório em que trabalho lá na empresa há pouco mais de três anos está reduzindo suas atividades (e chegou-se a pensar no fechamento), eu participei de quase toda a história desse escritório, e esse redução chateia um pouco. Eu e outros colegas temos tentado arrumar outra colocação na empresa, e outro dia desses cheguei a participar de uma seleção. Não fui selecionado, o que também chateia, mas de fato eu ainda não queria sair ainda e então não foi tão triste assim, mas na verdade teve um momento em que eu que achei que seria selecionado e então sairia, nessa hora eu estava no ônibus indo para o trabalho, lendo o meu Nietzsche, quando começaram a me brotar as palavras de uma despedida que eu pretendia enviar às mais de cem pessoas que fizeram parte da história desse ambiente. Interrompi a leitura, peguei uma caneta, um rascunho e comecei a escrever numa torrente de pensamentos incontroláveis, achei que ficou bacana, mas quando saiu o resultado e eu não fui selecionado, acho que fiquei mais triste foi de não me despedir das pessoas e desse processo da forma como eu tinha planejado. Enfim... pode ser que eu ainda saia e aí enviarei a carta a todos, pode ser que não, de qualquer forma fica a carta aqui e aí todos poderão ler se por acaso pararem aqui... aliás se você é uma dessas pessoas e parou por aqui por acaso, e gostou, divulgue o endereço para os outros colegas que você tenha contato. Segue o texto da cartinha...



"Estou de saída. Mas quero falar é desde quando eu cheguei, há pouco mais de três anos. Selecionado que fui pelo comitê anterior: Ewerton, Zé Roberto e Maria Helena, eles e depois os outros os outros três do comitê atual me impuseram questões tais, que tal com Platão o diz, em seu dialogo com Teeteto, agiram como parteiras, que fizeram nascer de mim, o profissional e o analista melhor que me tornei hoje.

Mas não é disso que que quero falar. Quero dizer da experiência que aqui tive, ao ver essa estrutura nascer, crescer e se desenvolver. De partirmos praticamente do nada e construirmos tudo isso que nós chegamos a ser. O crescimento pessoal e profissional que pude ver de tantas pessoas. Os diversos momentos de descoberta e de alegria que aqui vi e vivi. Os momentos ruins e de perdas que também acontecem, é a vida seguindo o seu curso. Tudo isso me tornou um homem melhor e mais preparado, mais cônscio da minha força, das minhas qualidades e também das minhas fraquezas e dos meus limites.

Mas também não é disso que quero realmente falar. Quero dizer é das pessoas, e de todo prazer e do orgulho que tive e tenho de ter aqui retomado a minha relação já de onze anos com meu amigo Gustavo Borges. De ter aqui continuado as minhas relações um pouco antes estabelecidas com o Mauro, o Lucas, o Mendel, a Iara e o saudoso Gut. E também de ter aqui construído outras tantas relações bacanas, como com o Marcone, o Coutinho, o Bernardo, o Caio, a Samantha, a Leila, a Vanessa, o Walle, a Vera, a Lígia, o Márcio, o Serjão, a Elcione, o Carlos, o Washington, o Ronaldo, o Cleberson, o Wesley, o Alessandro e a Carla (injustiças foram cometidas, eu sei, mas quando se propõe a citar, quase sempre, acontece), estes, talvez em maior grau,, mas no fim todos mesmo, me deram e me dão tanto prazer e orgulho, como já disse, desse contato que temos e/ou tivemos que eu sou hoje uma pessoa muito mais feliz do que eu era até 31/07/2006.

Eu sei que parte dessas relações se perderão no tempo, como lágrimas na chuva, mas também sei que algumas dessas relações me acompanharão por algum tempo, talvez de forma mais distante, enquanto outras, atravessarão esse teste da distância com louvor, se tornando até mais sólidas, presentes e próximas no fim. E isso me enche ainda mais de alegria.

Me despeço daqui com o sentimento do dever cumprido, com orgulho e alegria em relação a minha participação nesse processo que foi a Mesa, mas também já com certo pesar e saudade. Agora estou dando um passo para trás, não para dar dois a frente depois, mas para evitar de dar dois passos para trás agora. Mas espero e torço que a nova jornada a minha frente seja rica, valorosa, edificante e divertida como a que ora finda.

Sentirei muita falta daqui, do trabalho,do ambiente e das pessoas, mas sei também, que no microssegundo antes da minha morte, quando minha vida inteira passar pela minha mente, vou focar minha atenção a momentos importantes da minha vida, e ali me me lembrarei com carinho, desses últimos três anos e de vocês que me acompanharam nesse caminho.

Felicidades e sucesso a todos. Um beijo no coração de cada um, e que possamos nos encontrar por essa empresa e pelo mundo, em situações cada vez melhores, se Deus, assim, o permitir. "


"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,
trucidar
Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...

Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intencão e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa"


Francisco Buarque de Hollanda & Ruy Guerra





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