segunda-feira, agosto 31, 2009

Políticos brasileiros sonham em ser Obama no Twitter, mas não passam de um Mercadante

Política e Twitter. Eis um assunto que vem ganhando cada vez mais interesse. O Twitter ganhou credibilidade como importante meio político na última eleição americana. Com suficiente antecedência, a campanha de Obama soube construir a imagem do candidato através de mídias sociais. Essa interação na rede mostrou um candidato diferente, que se aproxima dos eleitores e sabe ouvi-los. Além disso, "humanizou" o político, normalmente estampado estaticamente em santinhos e cartazes. Se a televisão e o rádio exibem um político distante, protegido pela distância da comunicação de massa, o Twitter oferece a sensação de intimidade.

Enquanto isso, no Brasil o Twitter aparece na política apenas como paródia. Conscientes do poder midiático e interativo dos novos meios digitais, nossos políticos começam a divulgar seus perfis em serviços da Web 2.0. Mas, não sabem eles, as mídias sociais não fazem milagres eleitorais. São de fato um potente canal de interação, não apenas uma vitrine reluzente. Veja-se por exemplo as trapalhadas do senador Mercadante (sim, aquele que já apoiou Renan Calheiros). Sua equipe está ciente de que blogs e Twitter pautam a mídia de massa e de que as mensagens com 140 caracteres podem ter grandes efeitos. Por outro lado, esqueceram que a ferramenta não é suficiente. De que adianta uma mensagem forte e de impacto instantâneo se o responsável pelo perfil é inseguro e a todo momento trai os seus princípios?

No Twitter tudo é rápido. Um pseudo-protesto do senador, que avisava que iria deixar a liderança do PT no senado em caráter "irrevogável" (risos, muitos risos!), transformou-se pouco tempo depois em um atestado de óbito. Discursando para um plenário vazio (bem, isso não é novidade no senado), o senador vacilão atestava em viva voz que aquilo que se lera em seu Twitter era uma mentira virtual de um covarde real. Pobre política nacional, pobre Twitter. Pobre eleitor brasileiro.

Gostamos muito de elogiar o uso do Twitter pelo Obama. Mais ainda de mostrar a importância desse meio nos protestos do Irã. Por outro lado, muitos criticam o uso da tag #forasarney. É como se lá fora o Twitter realmente movimenta o debate público, enquanto no Brasil ele não passa de uma ignição para modas passageiras. Sim, Sarney não vai arredar o pé. Ele está "blindado" (palavra asquerosa que virou bordão na imprensa). Mesmo assim, continuo crendo que tanto a tag #FORASARNEY (sim, as maiúsculas é para indicar que estou GRITANDO) quanto os debates em blogs tem um impacto no espaço de debates. Certamente alguns estamparam a tag pouco sabendo quem é o senador bigodudo e os colegas que o apóiam. Mesmo assim, o tema estava circulando, provocando reflexões.

A insistência das mensagens na blogosfera e na Twittosfera pedindo a necessária saída de Sarney nunca teria sozinha a força de afastá-lo do cargo. Mesmo assim, o debate no ciberespaço é mais uma força, não a única, nem a mais forte. Quero crer que esses movimentos no mínimo despertam a curiosidade de jovens eleitores. Mais do que isso, ajudem a fortalecer a crescente insatisfação de nosso povo com seus representantes políticos. Essas mudanças são lentas. Mesmo assim, olhando para trás podemos ver o quanto nossa política já evoluiu. Pode parecer que estamos indo ladeira abaixo, em direção àquele imenso lamaçal. Mas hoje podemos expressar livremente nossas opiniões, sem sermos exilados, perseguidos ou torturados. E podemos testemunhar em tempo real como os políticos que elegemos roubam nossos bolsos e saqueiam nossa dignidade. Quem sabe essa total visibilidade e tanto debate nos conduzam a escolhas melhores no futuro.

Enfim, blogs e Twitter não são nossa salvação na política, nem a estratégia eleitoral certeira. Os debates que lá ocorrem tampouco são mudos, sem real impacto. São, na verdade, mais um elemento do debate político.

(por ALEXPRIMO em http://www.interney.net/blogs/alexprimo/2009/08/25/politicos_brasileiros_sonham_em_ser_obam/ )


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