terça-feira, setembro 15, 2009

Rádio-Ed Número 3

Olá Amigos,olha eu de volta aqui. Demorei mais voltei. É que a cabeça tá a milhão e produzindo bastante, mas o tempo tem rareado. Por falar nisso, agradecimento especial ao patrão Alessandro pela dispensa do sábado (a primeira vez em mais de tres anos que eu deliberadamente pedi uma dispensa da escala), e também ao amigo, gordo e safado Gervásio pela calorosa acolhida em Santa Bárbara neste fim de semana. Daí dois novos destinatários incluído nessa lista a paritr desta edição, os amigos Cachorro Ninja e Cecília, cujos endereços passei a ter devido a essa viagem. Informo a vocês também que tive alguns retornos interessantes dos dois números anteriores e tratarei deles mais a frente, e também que o amigo Washington me deu a idéia, e diz que vai me ajudar a tentar transformar isso num podcast. Tomara que funcione, e fique bacana, apesar de que eu terei bem mais trabalho para roteirizar daí para frente. Este texto começou a ser escrito na noite da última quinta e foi finalizado na tarde da sexta, mas só agora consegui digitá-lo.




Antes de começar a discorrer sobre o assunto do dia, relatarei os fatos que motivaram o início do pensamento.



Estava lá eu hoje começando o meu primeiro intervalo para um cigarro hoje, fui para a rua e sentei no degrauzinho na porta, como faço quatro vezes por dia e acendi um cigarro. Tinha uma dona sentada lá nessa hora, e ela usava um uniforme do salão que tem a uns 50 metros lá da porta. Estava dando o segundo trago no cigarro, até olhando paa o outro lado, quando esta dona me chama - "Ei amigo" - eu olho para ela - Com Licença, viu - Levantou-se e foi na direção do salão. Em princípio eu não entendi nada, mas depois achei que ela ficou incomodada, de eu sentar ali ao lado dela e acender um cigarro. Achei aquilo chatíssimo, porque se aquele espaço real mente não é meu, também, de fato, não é dela. Fumei meu cigarro e voltei ao trabalho.



Cerca de hora e meia depois, retornei aquele espaço para o segundo cigarro do dia, e tinha outra tia lá, essa uma doidinha, cheguei sentei, e acendi o cigarro, estou olhando para a rua, ela me chama, eu olho, ela começa a conversar comigo... não entendi um terço do que ela disse, mas o que eu entendi, percebi que ela contou coisas dela que eu nao perguntei, e que ela especulou algumas coisas sobre mim (com impressionante parcela de acerto), e isso me incomodou, me senti invadido. Aí ela me acende um fumo de rolo, que cheirava horrores, me lembrei imediatamente da outra dona. Aí eu fiquei mais simpático a essa tia, terminei meu cigarro, me despedi e coltei ao trabalho.



Passarei agora a um pequeno ensaio sobre, a chatice, e o espaço:



Há centenas de milnhares de anos havia duas espécies de hominídeos sobre a Terra: Os Neanderthais e os Sapiens. Elas competiam por espaço e por comida (nessa época eram apenas caçadores e coletores). Mas havia também disputas intra-especies, pelos mesmos espaço e comida, além das fêmeas então batalhas entre membros da mesma espécie levando a muitas mortes.



Quando os Sapiens, começaram a desenvolver uma maior capacidade de comunicação, puderam desenvover uma maior estruturação social e aí diminuindo as disputas dentro da espécie. Aí veio uma maior especialização dos individuos em caçadores, coletores, e guerreiros. Foi estabelecida então uma supremacia tal dos Sapiens, que de cara levou a extinção dos Neanderthais.



Havia então apenas alguns milhares de de humanos no mundo, vivendo em uns poucos locais, e foi a mesma ânsia por espaço, que antes levava as batalhas com os Neanderthais, que agora levaram os Sapiens a colonizar o Mundo inteiro. Mas o processo de compartilhamento de responsabilidades e de espaço, estava só começando, e nunca mais foi interrompido. Veio a domesticação de plantas e animais. E novas especialidades para os homens, Produtores de Alimentos, Guerreiros, Líderes e Burocratas, que continuou cada vez mais se diversificando até chegar as milhares de profissões existentes hoje. Vieram as instituições sociais: as famílias, clãs, caravanas, aldeias, tribos, cidades, nações,estados, países e até o processo ainda incipiente da globalização.



Partimos de uns poucos milhares, para milhões, depois bilhões. Hoje somos 7 Bilhões, a uns duzentos anos éramos mais ou menos 3 bilhões.



E o tamanho do espaço não se modificou. E vamos continuar aumentando em número, mas continuaremos convivendo no mesmo espaço.



Há razões históricas, biológicas e sociológicas para demandarmos espaço, e repelirmos o diferente, é verdade.



Mas numa análise mais detida é no entendimento, na aproximação e na aceitação que se explica nosso sucesso enquanto espécie. É por isso que conscientemente povoamos, cada vez mais, as cidades, onde há falta de espaço e relacionamento compulsório com o diferente.



Daí minhas conclusões:



1 - Não há como espernear. Teremos cada vez menos espaço, e sentiremo-nos cada vez mais invadidos.



2 - Não há como evitar que encontremos chatos pelo caminho, nem de que assim sejamos considerados pelos outros. Melhor é encarar isso numa boa.



3 - Antes termos uns pequenos transtornos causados por impulsos naturais de busca pelo espaço e repulsão, do que o maléfico resultado que o atingimento do isolamento pode trazer.



Hoje, excepcionalmente duas músicas. Uma sobre o "assumimento" da chatice como normal. (Essa em especial para o amigo Coutinho bastante chato o autor e intérprete e provavelmente da mesma forma considerará a música). A outra trata é da tragédia do isolamento.



O Chato
Oswaldo Montenegro

Todos os personagens sobre os quais escrevi, hoje, são fantamas que me habitam. Que olham pra mim pensando: Eu sou você amanhã e ontem.
Como se estivem num castelo aqui. Um castelo psiquico, todos me olhando. Escrevi sempre sobre o patético humano, o nosso ridículo eterno.
Nós temos a impressão, pela igreja católica, de que temos o pecado original, mas temos mais, temos o ridículo original. Essa nossa cara de quem vai tropeçar a qualquer momento, na frente da namorada.
Escrevi sobre personagens que tem esse patético acentuado, representantes disso: A bailarina gorda; o vampiro doidão que detestava sangue, era bonzinho; o gago que queria ser locutor de corrida de cavalo; a-a-aten-tenção v-vai se-ser dada saída, eles chegavam e ainda não saia; o Rei do mau-humor; Walfrido, o paranóico; Montenegro, o desajeitado; João, o ciumento. E todos eu identifico, são pessoas que eu posso dar o nome: eu fiz para esta pessoa. Esse eu não posso denunciar pra quem fiz porque a canção se chama: O Chato.
Segundo Millor Fernandes o Chato é aquele que conta tudo tim tim por tim tim, e depois ainda entra em detalhes.
Gente é preciso perdoar o chato. O chato não tem defeito grave. Ele só confunde as coisas, ele não entende, ele tem uma ingenuidade perene.
Você fala para o chato: "Como vai?" Ele responde. Gente, como vai quer dizer: Oi. Não é pra responder. Ninguém quer saber como você vai. "Como é que vai? - Oi."
Você fala para cara: Aparece lá em casa... Ele aparece.
Derruba o copo. Na hora que ele vai paquerar a menina derruba o uísque.
Mas é preciso perdoá-lo
Lá vou eu...
....
tem que tratar bem a imprensa, po...
....
Já faz parte da performance essa introdução enorme porque não tem nada mais chato do que o cara ficar se mostrando no violão antes de cantar...
....
Aí ele quer dizer que toca pra cacete, aí faz uma careta...
....
Ah, todo chato é bonzinho
nunca nos faz nenhum mal
ah, todo chato é calminho
como se faltasse sal
Ah, todo chato te conta
aonde passou o Natal
E sempre te da um dica
de onde ir no carnaval
Ah, todo chato cutuca
pra você prestar atenção
chama cabeça de cuca
e arranha um violão
diz que inventou uma música
e toca as seiscentas que fez
e quando você abre a boca e boceja
ele toca tudinho outra vez
Ah, todo chato é gosmento
mas não há como evitar
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar

Não tem nada mais chato do que o cantor que fica repetindo o refrão pra galera pegar. Viu a música pegou de prima, repeti só 743 vezes.
Montenegro também é terapia. O momento baseando em Jung, e na teoria estética de Tonico e Tinoco. É o momento em que você vai visualizar o seu chato primordial, o seu chato fundamental. Se ele estiver sentado do seu lado, você finge que não é com ele e olha pra mim. Isso olha pra cá. É preciso não ofender o chato. Isso olha pra mim. Você vai cantar baixinho, visualizando ele, espinha ereta, respira ... vamo lá ... tu ta rido de que de adesão ou autocrítica.

eu sou um chato e meu Deus não me agüento
(baixinho)
só me tacando no mar
É engraçado quando eu olho para alguém na platéia, ele faz uma caras assim... deve ser horivel... tu é um chato mesmo... fica me enchendo o saco... é foi mal...
vamo lá
eu sou um chato
vamo lá baixinho
Respira fundo
Vamo lá, Jung previu a catarse através da liberação conta o chato.
Vamo lá...
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando (vamo lá bem baixinho)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar

Sabe porque que eu peço baixinho?
Porque n;ao tem nada mais chato, do que quando eu vou a um show de um amigo meu, e o cara fala: todo mundo comigo... e não entra ninguém... então eu já mando cantar baixinho, que amanhã tá no jornal: Tinha o público na mão.
Vamo lá, Visualiza ele, respira fundo, espinha ereta, vamo cantar baixinho, e depois vamos num cescendo numa catarse absoluta. Ele vai te cutucar não canta - eu vou cantar porra - não canta eu vou cantar porra - se comporta você tá pensando que você tá num teatrinho é?

eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(crescendo por adesão)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(alegro sem exuberância)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(Raivoso mas non tropo, pensa nele)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(adesivo se confessando)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(agora libera geral, catarse para fora)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(alegro com descompostura, vá)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(agora gritando, vai, pra fazer bem, terapia honra, agora mais, mais..)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(com a banda agora, 1,2,3,4)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(pra aliviar, vai)
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
eu sou um chato e meu Deus não me agüento
só me tacando no mar
(a coisa mais chata que tem são os finais da musica pop, todos são assim a banda faz assim taaam e aí o cara tchum. Porque é que não inventam outro final, eu jamais faria um final assim.

....

Um Homem Chamado Alfredo
Toquinho e Vinicius de Moraes

O meu vizinho do lado
Se matou de solidão
Abriu o gás, o coitado
O último gás do bujão
Porque ninguém o queria
Ninguém lhe dava atenção
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração
Levou com ele seu louro
E um gato de estimação

Há tanta gente sozinha
Que a gente mal adivinha
Gente sem vez para amar
Gente sem mão para dar
Gente que basta um olhar
Quase nada
Gente com os olhos no chão
Sempre pedindo perdão
Gente que a gente não vê
Porque é quase nada

Eu sempre o cumprimentava
Porque parecia bom
Um homem por trás dos óculos
Como diria Drummond

Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
Embaixo assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê

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É isso aí galera.... até a próxima...



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