do blog do Luis Nassif replicando o Estadão texto de Jamil Chade
Em 2010, será a vez da crise da dívida
Com déficits fiscais altos, aumenta risco de países decretarem defaultJamil Chade
Depois de terem sido obrigados a gastar bilhões de dólares este ano para ajudar os setores mais atingidos pela recessão e salvar alguns dos maiores bancos, são agora os governos que ameaçam entrar em colapso em suas contas públicas. O ano de 2010 vai começar como o “ano da dívida”. Das três economias que mais correm o risco de decretar default em 2010, duas fazem fronteira com o Brasil: Venezuela e Argentina.
Em 2008 e 2009, parte da crise ocorreu diante da incapacidade de muitos em pagar suas dívidas. Casas foram devolvidas e empresas foram fechadas em meio à falta de crédito. Para 2010, a eventualidade de uma falência nas contas públicas teria um impacto bem maior. Não por acaso, a agência Moody”s publicou um relatório no início da semana com um título que chamou a atenção do mercado: “Apertem os Cintos – Tempos Tumultuados pela Frente”.
A avaliação tem base no fato de que um número crescente de países se encontra em dificuldades para saldar suas dívidas, problema que ficou explícito diante da situação em Dubai, que foi salvo com um pacote de US$ 10 bilhões por parte de Abu Dabi.
Na Europa, os números assustam até os mais experientes economistas em Bruxelas. O caso mais sério é o da Grécia, com uma dívida que chega a 112,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2010, a previsão oficial da Comissão Europeia é de que o buraco chegue a 135%. A agência de classificação de risco Fitch soou o alerta ao anunciar que a Grécia “corria o risco de naufragar sob suas dívidas”. O primeiro-ministro George Papandreou prometeu reformas, mas apelou para a “solidariedade europeia”. Mas o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, já deixou claro que não pretende fazer emissões de papéis para socorrer a Grécia.
Hoje, o país caminha para um déficit fiscal quatro vezes superior ao teto de 3% estipulado por Bruxelas para ser autorizada a usar o euro.
Portugal vem em segundo lugar, com uma dívida de 77,4% do PIB. No Reino Unido, a dívida representa o equivalente a 68,6 % do PIB, depois dos pacotes para salvar alguns dos maiores bancos do mundo. Com a queda da arrecadação por causa da recessão, o governo britânico ainda termina o ano com um déficit fiscal de 13%. Em 2008, essa taxa era de apenas 6,9%.
Metade do PIB espanhol está vinculada a dívidas. Em termos de déficit fiscal, os espanhóis projetam um buraco de 11,2%, em comparação aos 4,1% de 2008. Ironicamente, Madri assume em 1º de janeiro a presidência da União Europeia e um dos desafios será o de pedir que os governos controlem seus gastos.
Outro caso crítico é o da Irlanda, com um déficit fiscal de 10,75% do PIB. O governo já anunciou que vai promover um corte drástico dos recursos públicos para 2010. A crise não para por aí. Áustria, Ucrânia, Letônia e outros europeus também sofrem com dívidas cada vez maiores.
Nos Estados Unidos, a dívida superou o teto estabelecido pelo próprio Congresso em fevereiro. Segundo o Departamento do Tesouro, o volume chega a US$ 12,13 trilhões. A Casa Branca projeta um déficit recorde para os EUA em 2009 de US$ 1,5 trilhão. Em cinco anos, o volume chega a US$ 4,9 trilhões.
Na América Latina, os problemas também são graves. Para a agência Standard & Poor”s, o México não conseguirá compensar em 2010 sua situação fiscal com a exportação de petróleo. A agência rebaixou a classificação do país na semana passada para BBB.
Cuba, na prática, decretou moratória e não está pagando nenhuma empresa estrangeira pelos serviços prestados por causa das dívidas. No Equador, o governo de Rafael Correa viu o déficit fiscal pular de US$ 685 milhões no primeiro semestre de 2008 para mais de US$ 1,2 bilhão no mesmo período de 2009.
Mas, segundo a empresa de monitoramente do mercado CMA DataVision, a dívida mais assustadora é a da Venezuela. A chance de o país declarar default é de 57%. O país enfrenta uma recessão e tem a maior inflação da América Latina. O governo ainda fechou oito bancos privados em apenas 11 dias.
A Ucrânia tem a segunda dívida mais arriscada do mundo, com 54% de probabilidade de decretar default. A economia do país está sendo mantida por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Já a Argentina tem a terceira dívida mais crítica do mundo, com 49,1% de possibilidade de quebra. O governo decidiu voltar ao mercado internacional e anunciou a emissão de US$ 15 bilhões em títulos da dívida no mercado americano. Oito anos depois de dar um calote de US$ 100 bilhões, Buenos Aires sabe que precisará de recursos em 2010 para financiar as dívidas, que chegarão a US$ 13 bilhões.
Para a Moody”s, esses países precisam começar a pensar no impacto social desse rombo, pois o risco é de aumento da “tensão social e política”. A dívida mais segura do mundo é a da Noruega, com apenas 1,4% de chance de ver um default.
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