domingo, dezembro 20, 2009

Os campeões da era da Internet

do blog do Luis Nassif  replicando do Estadão texto de Charles Arthur

Três grupos definem a década na tecnologia

Microsoft, Apple e Google são a parte mais visível do salto dado em dez anos

A década passada pode ser resumida na história de três empresas e uma ideia cada vez mais poderosa. Na aurora do período, em 2000, a Microsoft era um colosso, com vendas equivalentes a US$ 19 bilhões em 1999 e lucro de US$ 7,8 bilhões relativas tanto ao mundo online quanto ao offline. A empresa era dona do sistema operacional mais vendido; mas em abril de 2000 a gigante recebeu ordem de dividir-se em duas – uma empresa de “sistemas operacionais” e outra de “aplicativos” – emitida pelo juiz Thomas Penfield Jackson, que a considerou culpada de violações da legislação antitruste após um julgamento que revelou muito sobre a abordagem inescrupulosa e implacável da empresa para as práticas de concorrência.

A decisão de Jackson – que poderia ter criado um par fascinante de empresas – foi revertida por uma apelação em 2001, depois que comentários feitos pelo juiz durante o julgamento a um repórter, Ken Auletta, foram publicados num livro. Isso conferiu à Microsoft a liberdade de seguir pressionando. Mas o julgamento antitruste quebrou parte do seu ímpeto; a empresa passou, desde então, a agir com mais cautela.

Enquanto isso, a Apple Computer enfrentava dificuldades: apesar da volta de Steve Jobs à posição principal da empresa em 1997, seus computadores causavam pouco impacto no mercado (os computadores eram o único produto da Apple; o iPod só foi lançado em outubro de 2001).

Apesar do sucesso do iMac em termos de design, a empresa avançava pouco do ponto de vista financeiro. Os US$ 6 bilhões em vendas (alta de 3%) e lucro de US$ 601 milhões (alta de 94%) registrados no ano fiscal de 1999 representaram ao menos algum crescimento, após três anos durante os quais a Apple encolheu e sofreu perdas consideráveis (apesar de ainda manter em caixa US$ 3 bilhões).

No final de 2000, no entanto, a Apple tomou uma decisão que mudaria a indústria e as perspectivas da empresa: comprou o Soundjam MP, popular programa reprodutor de arquivos mp3 para o Mac, e os serviços de seu principal programador, Jeff Robbin. Steve Jobs insistiria posteriormente que sua equipe vislumbrara o futuro, a chegada dos discos rígidos em miniatura capazes de armazenar gigabytes de dados, e posicionara a Apple para se aproveitar do momento. Seja como for, a aposta deu certo.

Enquanto isso, todos pareciam animados com a internet – que ainda era um mundo acessível por meio de conexões discadas. Uma pesquisa realizada em outubro de 1999 pela Continental Research mostrou que 18,6 milhões de britânicos tinham acesso à internet, gastando em média 17 minutos por dia (8,5 horas por mês) na rede. AOL e Time Warner deram um grande salto na direção do que acreditaram ser uma sinérgica fusão de US$ 109 bilhões, prevendo que as pessoas absorveriam conteúdo de mídia para as massas por meio de uma conexão restrita à internet. O negócio se revelou uma monumental demonstração de arrogância. Por quê? Conforme a década avançou, e principalmente a partir de 2001 – quando foi lançada a Wikipédia, desenvolvida por Jimmy Wales e Larry Sanger a partir do amadurecimento do software “wiki” -, o poder da multidão, e a habilidade das pessoas de usar a internet para seus próprios fins, e não para aqueles determinados pelos produtores de conteúdo, tornou-se central para a experiência da internet.

ANÚNCIOS NA INTERNET

Concomitantemente ao crescimento da multidão, vimos a ascensão do Google – que usa o poder da multidão para determinar a posição dos sites em seu ranking. No início da década o Google era uma boa ideia em busca de um modelo de negócios. Durante o ano de 2000, a empresa lançou anúncios de texto, apesar de admitir que eram “um pouco primitivos”. No entanto, naquele ano o Google foi contratado como mecanismo de buscas padrão pelo Yahoo. Depois de fechar 1999 realizando 7 milhões de buscas diárias (comparadas às 50 milhões de buscas feitas pelo AltaVista), em 2000 o Google já fazia 100 milhões de buscas diárias. Atualmente, são mais de 300 milhões todos os dias – ou 109 bilhões de buscas anuais.

Mas o Google ainda era um peixe pequeno; em 2000 sua receita foi de apenas US$ 19 milhões, mas seus custos foram de US$ 34 milhões – o que representou perdas de US$ 17 milhões. A empresa avançou timidamente para o lucro em 2001 (receita de US$ 86 milhões, lucro de US$ 10,9 milhões), mas só ganhou peso verdadeiro a partir de 2003 com o lançamento do Google Mail, quando a empresa descobriu como criar anúncios destinados a qualquer tipo de texto. Isso significou que a empresa se tornou capaz de oferecer anúncios em qualquer site, e não apenas nas páginas de busca. Sua receita e seu lucro aumentaram muito.

Então, em meados da década, chegou a banda larga. Apesar de imperfeita e frustrante, a melhoria em relação ao acesso discado era tão notável que todos correram para a rede: os britânicos passam agora 120 horas mensais na internet.

E o que tanto fazemos na rede? A década testemunhou uma explosão no conteúdo produzido por pessoas que antes não encontravam oportunidade para fazê-lo. A construção de páginas (por meio de serviços como o extinto GeoCities), depois os fóruns, e então os blogs ofereceram às pessoas uma mídia antes indisponível. A Wikipédia foi beneficiada conforme os usuários contribuíam com sua própria experiência: o “crowdsourcing” (reunião do potencial criativo da multidão) tornou-se cada vez mais poderoso, fato que chegou à consciência do público quando as imagens em baixa definição dos atentados contra Londres em julho de 2005 contaram a história que a mídia normal não foi capaz de contar.

REDES SOCIAIS

Conforme a década avançou, essa expressão criativa migrou para as novas “redes de relacionamento” como MySpace e Facebook, nas quais as atualizações dos blogs, mais extensas, foram substituídas por comentários diminutos; este fenômeno chegou ao auge com o Twitter, que limita as atualizações ao comprimento de uma mensagem de texto; e assim os pensamentos da multidão tornaram-se disponíveis para a mesma. AOL e Time Warner, enquanto isso, ficaram de fora, incapazes de concorrer com milhões de indivíduos na criação de conteúdo, e incapazes de encurralá-los em lucrativos jardins murados na internet. Este mês a fusão foi de fato dissolvida: a AOL foi recriada com valor estimado em US$ 2,4 bilhões; o da Time Warner é estimado em US$ 35 bilhões. Para onde foram os outros US$ 72 bilhões? Simplesmente sumiram na multidão.


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