sexta-feira, dezembro 18, 2009

O Campeonato da Emoção

Para começar a falar do campeonato Brasileiro de futebol de 2009, devo partir lá de trás, e lembrar do velho Kafunga, que dizia na TV quando eu era criança: " No Brasil, o Errado é que tá certo".

Esse campeonato foi, sem dúvida o campeonato mais emocionante da história de todos os tempos, em qualquer esporte de qualquer lugar do mundo. A quantidade de possibilidades que o transcorrer do campeonato mostrou,  provou que o Brasil é o lugar onde se tem um campeonato, de fato equilibrado, com muitos candidatos ao título, com uma disputa que realmente empolga e onde não há espaço para o cometimento de erros por parte das equipes. Aqui, de fato, ao contrário de outros campeonatos mundo afora há finais de campeonato semanalmente.

Para começar a ilustrar isso vamos comparar aqui as tabelas de classificação ao fim do primeiro turno e ao fim do campeonato para destacar algumas coisas:

                                                Primeiro Turno
TIMES
P
J
V
E
D
GP
GC
SG
%
1º Internacional
37
19
11
4
4
26
11
15
64
2º Palmeiras
37
19
10
7
2
31
17
14
64
3º Goiás
35
19
10
5
4
37
26
11
61
4º São Paulo
33
19
9
6
4
28
21
7
57
5º Atlético-MG
32
19
9
5
5
32
25
7
56
6º Avaí
30
19
8
6
5
28
22
6
52
7º Grêmio
28
19
8
4
7
33
22
11
49
8º Corinthians
28
19
8
4
7
23
23
0
49
9º Barueri
28
19
7
7
5
38
28
10
49
10º Flamengo
27
19
7
6
6
28
31
-3
47
11º Santos
26
19
6
8
5
34
34
0
45
12º Vitória
25
19
7
4
8
27
29
-2
43
13º Atlético-PR
24
19
7
3
9
21
29
-8
42
14º Cruzeiro
22
19
6
4
9
19
28
-9
38
15º Botafogo
21
19
4
9
6
26
31
-5
36
16º Coritiba
19
19
5
4
10
26
32
-6
33
17º Santo André
18
19
4
6
9
21
29
-8
31
18º Náutico
18
19
4
6
9
22
37
-15
31
19º Fluminense
15
19
3
6
10
21
32
-11
26
20º Sport
13
19
3
4
12
24
37
-13
22

                                                  Classificação Final
TIMES
P
J
V
E
D
GP
GC
SG
%
67
38
19
10
9
58
44
14
58
65
38
19
8
11
65
44
21
57
65
38
18
11
9
57
42
15
57
62
38
18
8
12
58
53
5
54
62
38
17
11
10
58
45
13
54
57
38
15
12
11
61
52
9
50
56
38
16
8
14
55
56
-1
49
55
38
15
10
13
67
46
21
48
55
38
15
10
13
64
65
-1
48
52
38
14
10
14
50
54
-4
45
49
38
12
13
13
59
52
7
42
49
38
12
13
13
58
58
0
42
48
38
13
9
16
51
57
-6
42
48
38
13
9
16
42
49
-7
42
47
38
11
14
13
52
58
-6
41
46
38
11
13
14
49
56
-7
40
45
38
12
9
17
48
60
-12
39
41
38
11
8
19
46
61
-15
35
38
38
10
8
20
48
71
-23
33
31
38
7
10
21
48
71
-23
27

Ao fim do primeiro turno, todos os times já enfretaram uma vez todos cada um dos adversários (coisa que farão novamente no returno com os mandos de campo invertidos),  o que nos leva a crer, que qualidade de cada time tivesse diferenças de nível bem marcados, ao fim do primeiro turno teríamos a ordem da classificação igual a classificação do final do campeonato. Mas isso denotaria a ausência total de equilíbrio em qualquer nível, e desconsideraria uma das maiores belezas do futebol que é o impacto do impoderável. Então o que em via de regra acontece ao redor do mudo históricamente, é que os times no final ficam na mesma posição que estavam na metade do campeonato, ou uma posição a frente ou uma atrás, com uns pouqíssimos times com subidas ou quedas mais relevantes. Estudemos o que houve nesse campeonato:


Flamengo  - Subiu 9 posições
Internacional - Caiu 1 posição
São Paulo - Subiu 1 posição
Cruzeiro - Subiu 10 posições
Palmeiras - Cai 3 posições
Avaí - Manteve a posição
Atlético-MG - Caiu 2 posições
Grêmio - Caiu 1 posição
Goiás - Caiu 6 posições
Corinthians - Caiu 2 posições
Barueri - Caiu 2 posições
Santos - Caiu  1 posição
Vitória - Caiu 1 posição
Atlético-PR - Caiu 1 posição
Botafogo - Manteve a posição
Fluminense - Subiu 3 posições
Coritiba- Caiu 1 posição
Santo André - Caiu 1 posição
Náutico - Caiu 1 posição
Sport - Manteve a posição


O que dá uma média de alteração de posições entre o primeiro e o segundo turno de 2,3 posições por time ( o que é uma média muito alta para os campeonatos ao redor do mudo onde normalmente essa média é próxima de zero e raras vezes supera a unidade.


Nesse campeonato apenas três times mantiveram as mesmas posições  no fim dos dois turnos.


Faltando meia hora para o fim dos jogos da última rodada, o time que foi campeão estava em terceiro. O quarto colocado (último a se classificar para a Libertadoras da América estava em quinto. O décimo-sétimo (primeiro rebaixado) estava em décimo-sexto e o time que estava em décimo-sétimo acabou terminando em décimo-quinto. Ou seja emoção e definições importantes ocorrendo até o último momento.


Tem mais: o time que segurou a lanterna por mais rodadas terminou na décima-sexta posição e se livrou do rebaixamento tendo um aproveitamento fantástico nos últimos 11 jogos, alcançando 9 vitórias e 2 empates (um aproveitamento de 87% dos pontos - bem superior ao aproveitamento total do time campeão). Enquanto isso o time que mais liderou o campeonato e terminou em quinto, fora até da classificação para a Libertadores, nessas mesmas 11 últimas rodadas, venceu 2, empatou 3 e perdeu seis (sendo o aproveitamento dos pontos nesse caso de 27% dos pontos disputados - mesmo percentual geral do lanterna ao fim do campeonato).


Todas essas variações, e as possibilidades que se colocaram com elas, geram o que? - Interesse do público crescente até o fim. Tivemos a maior média de público do campeonato desde 1987 (mesmo fazendo parte do campeonato clubes como o Barueri e o Santo André que tem torcidas nulas).


A quantidade de dinheiro que os clubes ganharam neste campeonato é incomparável com qualquer outro, e não é por acaso.


A audiência média desde o início e até o fim, as vendas do pay-per-view também cesceram, o que faz com que seja inexplicável o (re)surgimento da discussão sobre a fórmula do campeonato. Os pontos corridos são uma evolução fantástica do futebol Brasileiro e é tão estranho o assunto surgir, como foi patético o discurso do Márcio Braga, na festa dos melhores do campeonato defendendo o retorno dos mata-matas no Brasileirão. (mata-mata é para copas - e creio eu num futuro não muito distante considerarems como campeonatos brasileiros históricos apenas a partir de 2003- dando aos outros o mesmo peso das taçãs Brasil, o Robertão e tudo que os valham). É mais triste ainda se pensarmos que eu que não sou flamenguista, estava feliz pelo fim desse campeonato fantástico com o título do rubro-negro. Sim, fiquei feliz porque esse campeonato tão emocionante acabou ficando com a maior torcida e uma das mais apaixonadas do Brasil; e pelas biografias do próprio Márcio, que é com certeza o maior dirigente da história do flamengo (talvez do futebol brasileiro); do Andrade, pessoa simples, jogador e também técnico de alta classe, diferenciado de seus pares nessas duas classes;  do Petkovic, que se sempre foi uma figura interessante, e jogador habilidoso, agora em seu fim de carreira, completamente desacreditado, depois de algumas temporadas totalmente apagadas, e já sem jogar a algum tempo, contratado apenas para facilitar o pagamento de dividas do clube junto a ele, viveu ali nada menos que o auge da sua forma técnica, a melhor e mais exuberante fase de toda a sua carreira; e finalmente do Adriano, pelo ser humano corajoso que ele é, de ser capaz de abrir mão de diversos holofotes e milhões de verdinhas, para viver a vida do jeito que ele gosta, simples - bonita a opção e a força de vontade desse rapaz.


Nada disso, nem o campeonato, nem a conquista do Flamengo, nem o próprio clube, mereciam aquele papelão do Márcio Braga.


Houve outras coisas estranhas nesse campeonato, que nos retornariam ao grande Kafunga, como o Barueri não escalar seus principais jogadores contra o São Paulo (e logo depois negociar com o próprio um deles) não importa a desculpa que tenham usado para isso. Me estranha também ainda o alto investimento de alguns clubes em técnicos medalhões mas que há tempo não entregam nada digno de nota, neste ponto destaco o Autuori e o Luxemburgo, pela fábula que eles cobram. Outro ponto a destacar (aqui sendo eu cruzeirense os rivais talvez digam que eu esteja é jogando contra) mas considero um erro e uma injustiça o tratamento dado ao Celso Roth ao fim do campeonato em que o Atlético-MG fez sua melhor campanha nos campeonatos desses moldes, e também o responsavel pela montagem do time e pela sua direção em boa parte do campeonato em que teve a sua segunda  melhor performance (no ano de 2003).


Enfim eu sou Brasileiro e não desisto nunca, essa frase, que em princípio é de um ufanismo estranho, seja a que talvez melhor explique como e porque com tantos desacertos na direção, ainda assim, tenamos tido esse campeonato perfeito.


Mas é assim, no futebol, como na vida, no Brasil, o errado é que tá certo.



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