POR PAULO NOGUEIRA PARA A Época
Com o pai antes da confusão: a disputa foi motivada por amor de ambas as partes
ACOMPANHEI A história de Sean Goldman pela mídia estrangeira, sobretudo a americana. Vivo em Londres, e meu trabalho está conectado à situação internacional. Minhas leituras jornalísticas concentram-se quase que 100% nos noticiários de fora, sobretudo os ingleses, e em parte os americanos. Como assinalei no texto anterior, me chamou a atenção, negativamente, o tom exacerbadamente patriótico e claramente maniqueísta dado pela maior parte dos jornalistas americanos ao assunto. Parecia o bem contra o mal e quando é assim as decisões ficam mais fáceis. Mas não era este o caso. Como também escrevi, para mim era um segundo choque negativo em pouco tempo. Pouco antes, também fora rasamente nacionalista o tom dado ao julgamento na Itália da estudante
americana Amanda Knox, condenada a 26 anos pelo assassinato de Meredith Kercher, com quem rachava uma casa em Perúgia, cidade universitária. Amanda foi tratada como vítima pela mídia americana, numa absurda inversão de papéis. Para que fique claro. Sou, há longo tempo, um admirador da mídia americana, para mim uma das melhores do mundo. Não passei um único dia de minha carreira, desde que ingressei na Veja garoto ainda em 1980, sem ler e consultar revistas americanas. Depois da BBC, ninguém faz jornalismo tão bem quanto o New York Times. Aprecio, além disso, amplamente o espírito americano — empreendedor, democrático, meritocrata, informal. A flexibilidade da sociedade americana é exemplar: o dinheiro pode mudar de mãos se quem nasceu com
muito for inepto e quem nasceu com pouco trabalhar firme e bem. Muitas vezes, embora nem sempre, os Estados Unidos combateram o bom combate, como quando enfrentaram o nazismo e o imperialismo soviético, ou, em menor escala, quando fizeram carga contra o Muro de Berlim. De antiamericano nada tenho, portanto. Em minha carreira muitas vezes fui chamado de americanófilo, até por quem não sabia o significado disso. Se há preconceito em mim, é a favor dos Estados Unidos, e não contra. Isto posto, não sabia, ao chegar ao Brasil para as festas de fim de ano, o quanto o caso Sean apaixonara brasileiros e americanos. Só tive consciência disso na repercussão do texto que escrevi ontem, em que falava do Natal duro a que estava condenada a avó do garoto. Se antes já me impressionara a falta de objetividade dos jornalistas americanos, outras coisas me surpreenderiam depois.
A primeira, a maior delas, foi o ódio de muitas pessoas à família brasileira de Sean. Sei o quanto é difícil gostar de advogados, ainda mais bem sucedidos, como é o padrasto brasileiro de Sean. E sobre avó materna que disputa com o pai a atenção de uma criança, bem, minha história é longa e não cabe contá-la aqui.Mesmo com todos os descontos dados a assuntos por natureza explosivamente emocionais, me deram um calafrio certas reações desumanamente odiosas contra quem, afinal, foi derrotado numa causa tão complexa, em que o principal componente foi o excesso de amor. Muita gente, nos comentários ao texto de ontem, desejou que a avó sofra imensamente, e isso porque era Natal. Algumas pragas foram escritas em letras maiúsculas, o que significa berro. É inútil desejar sofrimento a quem com certeza sofrerá, mas isso não deteve quase ninguém. Também li que o lado brasileiro usou o garoto para certas fotos dramáticas. Pode ser, embora ache que isso
se deva a desespero e não a cálculo. Mas por que medir de outra forma a imagem sorridente de Sean ao lado do pai? O que aconteceu aí, a meu ver, foi o duelo do marketing da infelicidade contra o marketing da felicidade, sendo que o último é desnecessário, uma vez que a causa já foi vencida. Outro ponto que sublinharam nos comentários foi o papel da mídia brasileira, “tão parcial quanto a americana”. Não acompanhei o caso pelos veículos brasileiros, como expliquei no primeiro parágrafo, mas de ontem para hoje pesquisei razoavelmente. Não vi, em nenhum lugar, a versão do pai tão bem contada como num vídeo de 7 minutos do Fantástico, que achei no twitter. Ninguém faz uma reportagem daquelas quando o objetivo é ser parcial; basta não dar voz ao pai se
você quer contar apenas a parte do drama que convém. Quem contava a história, ali, era ele mesmo, o pai, numa conversa com um repórter na casa (muito boa) que será de Sean. O vídeo está aqui, para quem queira tirar a limpo minha afirmação. O que vi e ouvi reforçam minha impressão de que a justiça acertou: ali emerge um
pai amoroso, dedicado, com plenas condições de dar uma vida boa ao filho. Se isso não ocorrer, todo mundo logo saberá, dada a notoriedade do caso. Também ficou reforçado em mim o sentimento de pena pela avó brasileira, que não apenas perdeu a companhia do neto, já tendo enterrado a filha, como conquistou a raiva assassina de muita gente — e não estou falando apenas de americanos. Pai e filho provavelmente se redescobrirão rapidamente, é é bom que assim seja. Para a avó, os dias e as noites serão longos, frios e escuros.
Comentário meu:
Caríssimo Paulo, quando você recebeu comentários sobre a cobertura parcial da mídia brasileira, isso aconteceu porque de fato foi assim que a cobertura aqui se deu. Realmente houve esse espaço no fantástico, mas não houve outros, e faz tempo que a família (a parte brasileira) e os advogados dessa ocupam espaços na mídia do brasil (e continuam ocupando). Mas o espaço para o pai de Sean, não é a pior parte dessa cobertura parcial.
Nenhuma palavra sobre o impedimento do contato da criança com o pai e demais membros do lado paterno da família (por 5 anos).
Nenhuma palavra sobre a lavagem cerebral a que foi submetida a criança manipulando os seus conceitos sobre seu pai e seu país de nascimento, que apesar de não ser tratado pela imprensa foi facilmente percebido pela audiência, pelo próprio comportamento da família e dos advogados no vídeo, e tudo isso pode ser também percebidos nos autos.
Mas sim eu considero normal, que a mídia brasileira, feita por profissionais brasileiros, empregados por empresas brasileiras e com consumidores brasileiros seja parcial em favor de um lado brasileiro. Como também é normal isso acontecer do lado americano (não entendo sua decepção).
Sobre sua preocupação com o natal da avó, entendo e concordo que ele foi triste, como também será o próximo e o outro numa sequencia até o fim de seus dias, mas isso se dá pela própria postura dela e da falecida filha dela que não se esqueça SEQUESTROU o próprio filho porque a palavra é essa. Ela fugiu dos Estados Unidos com um filho cuja guarda era compartilhada com o pai, sem o conhecimento deste. Aqui, primeiro a mãe, depois o segundo marido dessa e a avó cercearam a liberdade dessa criança. Impediram o contato dessa com o pai (e aqui eu não falo de cartinhas respondidas, que o advogado mostrou aos berros, porque isso não é contato entre pai e filho). Assim sendo a separação ora traumática que acontece, assim o é porque a desastrada parte brasileira, desde a mãe até os digníssimos juizes que deram qualquer tipo de decisão favorável ao lado brasileiro, passando pelo padrasto, tio, avó, mídia brasileira e os patéticos advogados desse lado da querela; agora depois do dantesco espetáculo protagonizado e patrocinado pelo lado brasileiro da família de Sean quando da entrega, eles só poderão vê-lo seguindo as regras que serão definidas pelo judiciário americano (que assim como a imprensa, é muito mais desenvolvido que o nosso) e que provavelmente definirá por visitas com horário determinado e supervisionadas.
Colherá a avó, o que ela e os seus , plantaram, sendo no fim justo todo o sofrimento que ela agora, não apenas sente, como alardeia pela imprensa.
De fato, não me comove não.
POR PAULO NOGUEIRA PARA A Época
Com o pai antes da confusão: a disputa foi motivada por amor de ambas as partes
ACOMPANHEI A história de Sean Goldman pela mídia estrangeira, sobretudo a americana. Vivo em Londres, e meu trabalho está conectado à situação internacional. Minhas leituras jornalísticas concentram-se quase que 100% nos noticiários de fora, sobretudo os ingleses, e em parte os americanos. Como assinalei no texto anterior, me chamou a atenção, negativamente, o tom exacerbadamente patriótico e claramente maniqueísta dado pela maior parte dos jornalistas americanos ao assunto. Parecia o bem contra o mal e quando é assim as decisões ficam mais fáceis. Mas não era este o caso. Como também escrevi, para mim era um segundo choque negativo em pouco tempo. Pouco antes, também fora rasamente nacionalista o tom dado ao julgamento na Itália da estudante
americana Amanda Knox, condenada a 26 anos pelo assassinato de Meredith Kercher, com quem rachava uma casa em Perúgia, cidade universitária. Amanda foi tratada como vítima pela mídia americana, numa absurda inversão de papéis. Para que fique claro. Sou, há longo tempo, um admirador da mídia americana, para mim uma das melhores do mundo. Não passei um único dia de minha carreira, desde que ingressei na Veja garoto ainda em 1980, sem ler e consultar revistas americanas. Depois da BBC, ninguém faz jornalismo tão bem quanto o New York Times. Aprecio, além disso, amplamente o espírito americano — empreendedor, democrático, meritocrata, informal. A flexibilidade da sociedade americana é exemplar: o dinheiro pode mudar de mãos se quem nasceu com
muito for inepto e quem nasceu com pouco trabalhar firme e bem. Muitas vezes, embora nem sempre, os Estados Unidos combateram o bom combate, como quando enfrentaram o nazismo e o imperialismo soviético, ou, em menor escala, quando fizeram carga contra o Muro de Berlim. De antiamericano nada tenho, portanto. Em minha carreira muitas vezes fui chamado de americanófilo, até por quem não sabia o significado disso. Se há preconceito em mim, é a favor dos Estados Unidos, e não contra. Isto posto, não sabia, ao chegar ao Brasil para as festas de fim de ano, o quanto o caso Sean apaixonara brasileiros e americanos. Só tive consciência disso na repercussão do texto que escrevi ontem, em que falava do Natal duro a que estava condenada a avó do garoto. Se antes já me impressionara a falta de objetividade dos jornalistas americanos, outras coisas me surpreenderiam depois.
A primeira, a maior delas, foi o ódio de muitas pessoas à família brasileira de Sean. Sei o quanto é difícil gostar de advogados, ainda mais bem sucedidos, como é o padrasto brasileiro de Sean. E sobre avó materna que disputa com o pai a atenção de uma criança, bem, minha história é longa e não cabe contá-la aqui.Mesmo com todos os descontos dados a assuntos por natureza explosivamente emocionais, me deram um calafrio certas reações desumanamente odiosas contra quem, afinal, foi derrotado numa causa tão complexa, em que o principal componente foi o excesso de amor. Muita gente, nos comentários ao texto de ontem, desejou que a avó sofra imensamente, e isso porque era Natal. Algumas pragas foram escritas em letras maiúsculas, o que significa berro. É inútil desejar sofrimento a quem com certeza sofrerá, mas isso não deteve quase ninguém. Também li que o lado brasileiro usou o garoto para certas fotos dramáticas. Pode ser, embora ache que isso
se deva a desespero e não a cálculo. Mas por que medir de outra forma a imagem sorridente de Sean ao lado do pai? O que aconteceu aí, a meu ver, foi o duelo do marketing da infelicidade contra o marketing da felicidade, sendo que o último é desnecessário, uma vez que a causa já foi vencida. Outro ponto que sublinharam nos comentários foi o papel da mídia brasileira, “tão parcial quanto a americana”. Não acompanhei o caso pelos veículos brasileiros, como expliquei no primeiro parágrafo, mas de ontem para hoje pesquisei razoavelmente. Não vi, em nenhum lugar, a versão do pai tão bem contada como num vídeo de 7 minutos do Fantástico, que achei no twitter. Ninguém faz uma reportagem daquelas quando o objetivo é ser parcial; basta não dar voz ao pai se
você quer contar apenas a parte do drama que convém. Quem contava a história, ali, era ele mesmo, o pai, numa conversa com um repórter na casa (muito boa) que será de Sean. O vídeo está aqui, para quem queira tirar a limpo minha afirmação. O que vi e ouvi reforçam minha impressão de que a justiça acertou: ali emerge um
pai amoroso, dedicado, com plenas condições de dar uma vida boa ao filho. Se isso não ocorrer, todo mundo logo saberá, dada a notoriedade do caso. Também ficou reforçado em mim o sentimento de pena pela avó brasileira, que não apenas perdeu a companhia do neto, já tendo enterrado a filha, como conquistou a raiva assassina de muita gente — e não estou falando apenas de americanos. Pai e filho provavelmente se redescobrirão rapidamente, é é bom que assim seja. Para a avó, os dias e as noites serão longos, frios e escuros.
Comentário meu:
Caríssimo Paulo, quando você recebeu comentários sobre a cobertura parcial da mídia brasileira, isso aconteceu porque de fato foi assim que a cobertura aqui se deu. Realmente houve esse espaço no fantástico, mas não houve outros, e faz tempo que a família (a parte brasileira) e os advogados dessa ocupam espaços na mídia do brasil (e continuam ocupando). Mas o espaço para o pai de Sean, não é a pior parte dessa cobertura parcial.
Nenhuma palavra sobre o impedimento do contato da criança com o pai e demais membros do lado paterno da família (por 5 anos).
Nenhuma palavra sobre a lavagem cerebral a que foi submetida a criança manipulando os seus conceitos sobre seu pai e seu país de nascimento, que apesar de não ser tratado pela imprensa foi facilmente percebido pela audiência, pelo próprio comportamento da família e dos advogados no vídeo, e tudo isso pode ser também percebidos nos autos.
Mas sim eu considero normal, que a mídia brasileira, feita por profissionais brasileiros, empregados por empresas brasileiras e com consumidores brasileiros seja parcial em favor de um lado brasileiro. Como também é normal isso acontecer do lado americano (não entendo sua decepção).
Sobre sua preocupação com o natal da avó, entendo e concordo que ele foi triste, como também será o próximo e o outro numa sequencia até o fim de seus dias, mas isso se dá pela própria postura dela e da falecida filha dela que não se esqueça SEQUESTROU o próprio filho porque a palavra é essa. Ela fugiu dos Estados Unidos com um filho cuja guarda era compartilhada com o pai, sem o conhecimento deste. Aqui, primeiro a mãe, depois o segundo marido dessa e a avó cercearam a liberdade dessa criança. Impediram o contato dessa com o pai (e aqui eu não falo de cartinhas respondidas, que o advogado mostrou aos berros, porque isso não é contato entre pai e filho). Assim sendo a separação ora traumática que acontece, assim o é porque a desastrada parte brasileira, desde a mãe até os digníssimos juizes que deram qualquer tipo de decisão favorável ao lado brasileiro, passando pelo padrasto, tio, avó, mídia brasileira e os patéticos advogados desse lado da querela; agora depois do dantesco espetáculo protagonizado e patrocinado pelo lado brasileiro da família de Sean quando da entrega, eles só poderão vê-lo seguindo as regras que serão definidas pelo judiciário americano (que assim como a imprensa, é muito mais desenvolvido que o nosso) e que provavelmente definirá por visitas com horário determinado e supervisionadas.
Colherá a avó, o que ela e os seus , plantaram, sendo no fim justo todo o sofrimento que ela agora, não apenas sente, como alardeia pela imprensa.
De fato, não me comove não.
Nenhuma palavra sobre o impedimento do contato da criança com o pai e demais membros do lado paterno da família (por 5 anos).
Nenhuma palavra sobre a lavagem cerebral a que foi submetida a criança manipulando os seus conceitos sobre seu pai e seu país de nascimento, que apesar de não ser tratado pela imprensa foi facilmente percebido pela audiência, pelo próprio comportamento da família e dos advogados no vídeo, e tudo isso pode ser também percebidos nos autos.
Mas sim eu considero normal, que a mídia brasileira, feita por profissionais brasileiros, empregados por empresas brasileiras e com consumidores brasileiros seja parcial em favor de um lado brasileiro. Como também é normal isso acontecer do lado americano (não entendo sua decepção).
Sobre sua preocupação com o natal da avó, entendo e concordo que ele foi triste, como também será o próximo e o outro numa sequencia até o fim de seus dias, mas isso se dá pela própria postura dela e da falecida filha dela que não se esqueça SEQUESTROU o próprio filho porque a palavra é essa. Ela fugiu dos Estados Unidos com um filho cuja guarda era compartilhada com o pai, sem o conhecimento deste. Aqui, primeiro a mãe, depois o segundo marido dessa e a avó cercearam a liberdade dessa criança. Impediram o contato dessa com o pai (e aqui eu não falo de cartinhas respondidas, que o advogado mostrou aos berros, porque isso não é contato entre pai e filho). Assim sendo a separação ora traumática que acontece, assim o é porque a desastrada parte brasileira, desde a mãe até os digníssimos juizes que deram qualquer tipo de decisão favorável ao lado brasileiro, passando pelo padrasto, tio, avó, mídia brasileira e os patéticos advogados desse lado da querela; agora depois do dantesco espetáculo protagonizado e patrocinado pelo lado brasileiro da família de Sean quando da entrega, eles só poderão vê-lo seguindo as regras que serão definidas pelo judiciário americano (que assim como a imprensa, é muito mais desenvolvido que o nosso) e que provavelmente definirá por visitas com horário determinado e supervisionadas.
Colherá a avó, o que ela e os seus , plantaram, sendo no fim justo todo o sofrimento que ela agora, não apenas sente, como alardeia pela imprensa.
De fato, não me comove não.
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